Título: Se dissesse que paguei do meu bolso estaria mentindo
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 01/03/2008, O País, p. 8

O presidente da CNTTT, Omar José Gomes, interrompeu reunião de trabalho esta semana na sede da Nova Central Sindical para responder às denúncias que constam da peça encaminhada pelo conselheiro fiscal Paulo Francisco ao Ministério Público e ao TCU. Com uma franqueza surpreendente, ele não as desmentiu.

Maria Lima

Paulo Francisco disse que desde 2004 vem denunciando abusos na gestão do imposto sindical. É verdade?

OMAR GOMES: Em novembro do ano passado, no encontro do conselho geral, em Salvador, ele apresentou esse documento, que foi rejeitado por todos. O primeiro a me defender foi o secretário adjunto José Carlos Sena. Como em maio agora tem nova eleição e Paulo ficou fora da chapa, resolveu voltar com isso.

Depois de três mandatos, o senhor vai disputar nova eleição?

OMAR: Vou continuar se, por acaso, isso não me pegar. Enquanto tiver o apoio dos trabalhadores, eu continuo.

Paulo Francisco vai lançar outra chapa para disputar com o senhor?

OMAR: Não tem jeito. São 12 federações filiadas à CNTTT. Já estou com todos os eleitores fechados comigo. Será 11 contra 1. Na Federação do Rio, onde sou tesoureiro, serei reconduzido.

A denúncia diz que o senhor pratica nepotismo, e que as despesas de sua mulher na Federação do Rio são custeadas pela confederação.

OMAR: Lá, quem faz tudo é minha esposa. Ela recebe um salário de R$5 mil.

E essas viagens internacionais com dinheiro da CNTTT?

OMAR: Como conselheiro da ITF, que tem sede em Londres, todo ano eu tinha que viajar para a Inglaterra. Uma ou duas vezes eu levei minha mulher para conhecer a Inglaterra.

Mas tinha também Roma, Paris...

OMAR: Eu aproveitei as viagens a Londres para levar minha mulher para conhecer Roma e Paris. Você sabe, ali na Europa é tudo pertinho, não custava nada. Levei a Donatila, secretária do Trigo, porque, além de ser intérprete de inglês, ela trabalhava muito. Se dissesse que paguei do meu bolso estaria mentindo. Foi a entidade, não posso negar, porque depois aparecem as notas, vai ter essa investigação e como vou ficar? Não gosto de mentir.

Na viagem a Tóquio dona Maria também foi? E com uma intérprete para acompanhá-la nas compras?

OMAR: É verdade também. A agência de viagens recomendou que a CNTTT contratasse uma moça lá do Paraná como intérprete. Não sei quanto custou, foi a entidade que pagou. Se tiver que cair por isso, paciência. Está tudo documentado, vamos ver que bicho vai dar.

Mas essas viagens todas tinham que ser de primeira classe?

OMAR: Primeira classe não, que é muito mais cara. Era de classe executiva. Pela duração das viagens e pela minha idade, não agüento classe econômica.

O senhor acha natural que os empréstimos para sindicatos sejam perdoados?

OMAR: A gente emprestava e depois doava. Tudo aprovado pelo Conselho Fiscal, alguns o Paulo não aprovou. O dirigente falava que estava em dificuldade, que pagaria o empréstimo daqui a três meses. No fim do ano, o pagamento não vinha, a gente tinha que transformar em doação para fechar a prestação de contas.

O senhor não acha seu salário alto?

OMAR: Não acho, não. É relativo. Nas atas eu explico por que tenho esse salário. Pelo que faço, é o salário justo.

O senhor se sente traído pelo Paulo Francisco?

OMAR: Bota traição nisso!