Título: Agora, apagão não assusta Aneel
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 01/03/2008, Economia, p. 35

Diretor descarta racionamento e defende subsídio para desestimular uso de GNV.

As chuvas que caem desde o início de fevereiro, enchendo os reservatórios das hidrelétricas, afastaram definitivamente o fantasma de o país sofrer um racionamento de energia este ano. A garantia foi dada ontem pelo diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman. Em janeiro, ele deixou o governo em polvorosa ao declarar que poderia haver necessidade de racionamento. Ontem, Kelman também defendeu que o governo crie uma compensação para os consumidores com carro movido a gás natural veicular (GNV) para poder usar o produto na geração de energia.

- Nós agora já estamos seguros de que o risco de racionamento para este ano é zero, essencialmente porque houve chuvas muito intensas em fevereiro - disse Kelman, ontem.

Em janeiro, ele afirmou que não descartava a necessidade de um plano de racionamento em 2008, caso se mantivesse, até o fim de abril, o baixo nível pluviométrico do início do ano. Para 2009, a situação também é tranqüila, disse Kelman ontem: as chuvas que estão por vir determinarão apenas a necessidade maior ou menor de geração por termelétricas.

O período de seca manteve o nível dos reservatórios de Sudeste e Centro-Oeste baixo em janeiro, chegando a 44% abaixo da margem mínima de segurança. Mas, em fevereiro, a situação se inverteu. No último dia 18, o nível dos reservatórios já estava em 65,2%. Como esse volume está apenas 2,5% acima da margem de segurança, o governo decidiu manter em plena operação as termelétricas, que estão gerando cerca de 6.200 megawatts médios (MW).

- As circunstâncias mudaram. Em janeiro havia razão para preocupação, agora não há - explicou. Ao defender o uso, em usinas, do GNV (cerca de 6 milhões de metros cúbicos por dia), Kelman disse acreditar que é mais cara a geração em térmicas a óleo combustível do que os subsídios que seriam dados aos donos de veículos a gás. Além disso, ele disse que o aumento das emissões com a volta do uso da gasolina seria menor que o custo das térmicas a óleo:

- Se o consumidor fosse indenizado, recebendo a diferença entre o custo do gás natural e o da gasolina, esse gás ficaria disponível para termelétricas.

O vice-presidente da Associação Latino-Americana de GNV, Rosalino Fernandes, não vê sentido na proposta:

- Se o governo fizesse um programa de uso racional de energia e trocasse, por exemplo, os 25 milhões de chuveiros elétricos por formas mais eficientes, economizaria o equivalente ao consumo do GNV.