Título: Vale admite impasse com a Xstrata
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 01/03/2008, Economia, p. 36

Agnelli diz que limite de oferta foi atingido. Decisão depende da Glencore.

As negociações com a anglo-suíça Xstrata chegaram a um impasse. O presidente da Vale, Roger Agnelli, deixou claro ontem que a parceria com a mineradora não é uma prioridade e que, para a empresa, prioritário mesmo é a "disciplina financeira e o crescimento orgânico". Agnelli disse que a Vale chegou ao limite nas negociações com a Xstrata e que, a partir de agora, caberá à Glencore - dona de um terço do capital da Xstrata e uma das suas maiores controladoras - definir os rumos da conversa.

- Já chegamos ao nosso limite, agora depende deles. O que quero deixar claro é o seguinte. Isto não é prioridade para a Vale. A prioridade para a Vale é tocar os seus projetos, porque em qualquer conta que a gente possa vir a fazer, é mais barato tocar nossos projetos. Temos que ter juízo - disse Agnelli, explicando que os entraves na mesa de negociação têm sido preço e estratégia do negócio.

Valor do negócio estaria supervalorizado, diz analista

Um dia depois de anunciar um lucro recorde de R$20 bilhões - 48,95% maior que em 2006, Agnelli informou que a empresa está "pesquisando ativos aqui e lá fora, entre ouro e outros minerais", mas, por enquanto, a única proposta concreta é a da Xstrata, até porque seria uma "combinação estratégica muito positiva", que reforçaria a posição da Vale nos mercados de carvão térmico e metalúrgico, níquel e cobre.

Negociações costumam mesmo ser demoradas e, como admitiu o executivo, essa, em particular, está "difícil e complicada". Com a canadense Inco deu tão certo, que, em 18 a 20 meses, a Vale projeta zerar o investimento feito, de cerca de US$18 bilhões. Já com a Noranda, também canadense, as negociações fracassaram. No caso da Xstrata, segundo alguns analistas, como Cristiane Viana, da Ágora Corretora, os valores estariam supervalorizados.

- A Vale está sinalizando que a empresa não está disposta a pagar qualquer preço pela Xstrata - avaliou o gerente de Análise da Modal Asset, Eduardo Roche, convencido de que essa estratégia está correta, já que a Vale está numa situação confortável tanto do ponto de vista financeiro quanto produtivo.

Ainda que o negócio com a Xstrata não avance, a meta da Vale de se tornar a maior mineradora do mundo continua de pé. "Não temos limite de tempo para negociar", comentou Agnelli.

Já que a prioridade da Vale é investir no "crescimento orgânico", os planos da mineradora passam por investir, nos próximos cinco anos, US$59 bilhões em projetos dentro e fora do Brasil. Energia, por exemplo, é uma das prioridades da empresa, ainda que não seja ainda um obstáculo aos negócios.

- Mas precisamos acelerar os investimentos - admitiu Agnelli, comentando que a Vale está avaliando projetos de hidrelétrica na Colômbia e no Oriente Médio.

Empresa quer tornar-se exportadora de níquel

A empresa projeta atingir a produção de 325 milhões de toneladas de minério de ferro este ano e de 422 milhões de toneladas até 2012. O níquel é outro alvo da Vale, que pretende tornar-se exportadora do produto, e a projeção é chegar a 507 milhões de toneladas produzidas em cinco anos.

A Vale encomendou ao Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FG), um estudo sobre o impacto do reajuste de 65% do minério na economia do país. O estudo será concluído em breve. Os resultados preliminares indicam que a taxa de investimento do país poderia elevar-se em 1,8%, e o câmbio poderia valorizar-se 1,28%.