Título: Fidel: afastado do poder, mas não muito
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Fonte: O Globo, 01/03/2008, O Mundo, p. 42
Ex-presidente cubano diz que indicou nomes para Conselho de Estado e nega briga com Raúl.
HAVANA. Fidel Castro pode não ser mais o presidente de Cuba, mas continua no centro das decisões. Num artigo ontem, ele revelou que foi sua a idéia de promover dois generais para integrar o Gabinete de governo e negou ter discutido com o irmão, Raúl, sobre a formação do Conselho de Estado. Estes foram os primeiros comentários dele desde que Raúl foi confirmado como presidente e parecem ter como objetivo afastar boatos de desavenças ou de uma militarização do governo. Fidel disse que não tem cargo no atual Gabinete e que Raúl tem "todas a prerrogativas legais e constitucionais" para governar Cuba.
O ex-presidente, afastado devido a uma doença misteriosa, disse que Raúl o consultou sobre a indicação do ideólogo linha-dura do Partido Comunista José Ramón Machado Ventura para primeiro vice-presidente. "Foi também decisão minha pedir ao comitê de nomeação que incluísse Leopoldo Cintra Frías e Alvaro López Miera na lista do Conselho", disse Fidel. López Miera é chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e Cinta Frías é comandante do Exército Ocidental. "O tabuleiro de xadrez indicava essas alternativas. Não eram fruto de supostas tendências militaristas de Raúl, nem se tratava de gerações ou partidos disputando a dentadas o poder."
Apesar de não ser mais presidente, Fidel continua deputado e primeiro-secretário do PC. "Não fui eu quem exigiu a consulta; foram Raúl e os dirigentes que decidiram me consultar", acrescentou. Ele criticou notícias de uma discussão entre os irmãos antes da sessão parlamentar de domingo.
Intelectuais envolvidos num debate sobre a censura nos anos 70 pediram uma revolução na mídia estatal. O debate, por correio eletrônico, foi transformado no livro "A política cultural do período revolucionário: memória e reflexão", publicado por uma editora estatal e apresentado na Feira Internacional do Livro de Havana. Ele recolhe depoimentos de intelectuais que sofreram perseguições. "Para os meios de comunicação, esse debate não existiu", escreveu Fernando Martínez.