Título: Ciência x religião
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 01/03/2008, Ciência, p. 45

Portadores de deficiências e Igreja debatem o uso de embriões em pesquisas.

De olho no julgamento do Supremo Tribunal Federal, na quarta-feira, defensores e críticos do uso de células-tronco embrionárias em pesquisas tentaram sensibilizar os ministros e a opinião pública. Ontem, vítimas de doenças degenerativas e seus familiares levaram balões, flores e faixas para a frente do Supremo, defendendo a continuidade das pesquisas. Não longe dali, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) convocou entrevista para criticar o uso das células embrionárias.

O secretário-geral da CNBB, d. Dimas Lara Barbosa, disse que a continuidade das pesquisas abre caminho para a legalização do aborto.

- Começa-se com casos de maior apelo emocional, como este ou o dos fetos anencefálicos. Não vai ser o primeiro passo, porque o aborto não é penalizado nas situações previstas em lei, mas será um passo sério na direção do processo sistemático de legalização do aborto. Foi assim em outros países - disse d. Dimas.

Na mesma linha, o presidente da CNBB, d. Geraldo Lyrio Rocha, afirmou que a vida começa na fecundação:

- Se a vida começou ali, na fecundação, então já é uma vida humana. Portanto, portadora de direitos. E o direito da criança que ainda vai nascer é sagrado. A Igreja é defensora da vida.

Os dois bispos disseram que pesquisas com células-tronco adultas já deram resultado, ao contrário da manipulação de células embrionárias. D. Geraldo negou que a Igreja seja insensível ao drama dos doentes. Ele acusou os defensores das pesquisas de manipular dados:

- Manipular o sentimento e a dor de pessoas com informações falsificadas não é só irresponsável, mas desumano. Salvar um e matar outro não é resposta.

Esperança de cura e tratamento

O secretário-geral defendeu que os embriões congelados em clínicas de fertilização in vitro e que poderiam ser usados em pesquisas continuem resfriados por tempo indeterminado. O presidente da CNBB disse que a Igreja não tem resposta para tudo e que quem criou essa situação deve solucioná-la.

Não é o que pensam os manifestantes que levaram balões, flores e faixas até a frente do Supremo. O grupo, que reúne 62 entidades médicas, sociais e científicas, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), recolheu 41 mil assinaturas em defesa das pesquisas.

A coordenadora do Movimento Em Prol da Vida no Distrito Federal, Gabriela Costa, de 32 anos e vítima de distrofia muscular, estava lá em sua cadeira de rodas:

- As células embrionárias representam a esperança de tratamento e cura para centenas de doenças degenerativas para as quais não havia esperança nenhuma. É muito para quem não tinha nada.