Título: Os seminários fantasmas do PTB
Autor: Gripp, Alan; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 03/03/2008, O País, p. 3

GASTOS SEM CONTROLE

Partido usou R$255 mil do Fundo Partidário para pagar eventos jamais realizados.

OPartido Trabalhista Brasileiro (PTB), presidido pelo deputado cassado Roberto Jefferson, pagou em 2006 um total de R$255 mil para a realização de seminários pelo Brasil que nunca aconteceram. O dinheiro foi desembolsado pela legenda em setembro e outubro daquele ano, ou seja, na reta final das eleições para deputados, senadores, governadores e presidente. Quinta-feira, depois que O GLOBO descobriu que três das quatro empresas "contratadas" não tinham sequer sede, o PTB admitiu que pagou por serviços não realizados. Mas negou que o dinheiro tenha sido desviado. Os seminários foram pagos com dinheiro público proveniente do fundo partidário.

Notas fiscais que constam da prestação de contas do partido ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que quatro pequenas empresas de Brasília receberam os recursos. Os seminários, batizados de "14 (referência ao número do partido) sem barreiras", segundo os documentos, seriam em Curitiba, São Paulo, Florianópolis, Belém, Porto Alegre e Rio.

Das quatro empresas contratadas, duas funcionariam no mesmo endereço (uma sala na Asa Norte de Brasília), segundo a Receita Federal. Mas a sala está fechada. De acordo com a imobiliária dona do imóvel, os proprietários da Exitus e da Vôo Livre deixaram o local em junho de 2006 - portanto, não tinham sede quando o PTB as contratou.

Partido diz que adiou o projeto

Outra agência de turismo que recebeu recursos, a Conexão Brasil, também fechou, segundo funcionários do prédio onde funcionava, no Centro de Brasília.

- Fechou há uns sete meses. Eu mesmo pintei a sala para a dona Evelin (que seria a dona). Ela disse que não estava dando conta de manter a empresa - contou um porteiro.

A quarta empresa, a Agenda Eventos e Montagem, funciona em outro prédio da capital. Procurada pelo GLOBO, não se pronunciou.

O PTB disse, em nota, que os seminários foram "contratados" na gestão de Flávio Martinez, hoje vice-presidente da legenda. Segundo a nota, quando Roberto Jefferson reassumiu o partido, cancelou os eventos. Mas, disse ainda o texto, o PTB decidiu manter um crédito com essas empresas para aproveitar futuramente os descontos que davam: "Posteriormente, o PTB negociou com elas (as empresas) uma carta de crédito e retomou a idéia de realizar o projeto, adiando-o para 2008, ano eleitoral".

O PTB não mostrou ao GLOBO a carta de crédito. Disse que ela estava com o tesoureiro do partido, que só estaria em Brasília amanhã. O documento também não foi anexado na prestação de contas do PTB à Justiça Eleitoral. Os partidos podem fazer retificações nas prestações de contas.

O GLOBO localizou a proprietária da Exitus e da Vôo Livre, Lélia Eleonora de Abreu Malta. Ela deu a mesma versão do partido e disse que, mesmo sem estrutura, fará os seminários assim que o PTB decidir. Suas empresas têm ainda outro problema: tiveram a inscrição suspensa na Secretaria de Fazenda do governo do Distrito Federal por não recolher impostos.

- Eu devo, eu sei. Essa semana já peguei uma certidão, vou parcelar meus débitos - disse, garantindo que sua empresa não é de fachada. - A empresa funciona, está em atividade. Mas como estou fazendo mudanças nela, não estou com infra-estrutura. Está tudo em depósitos.

A Vôo Livre, apesar de constar na Receita como especializada em turismo, recebeu outros R$158 mil para organizar eventos. Segundo o PTB, todos aconteceram após junho de 2006, quando a empresa não tinha mais sede. Duas notas fiscais referem-se a serviços prestados na organização da convenção do PTB, em outubro de 2006. A empresa teria alugado vans e fornecido flores a recepcionistas.