Título: Cúpula do PT briga por mais espaço no governo
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 03/03/2008, O País, p. 8

Para pressionar Planalto, bancada tenta tirar força do Executivo no envio de medidas provisórias

BRASÍLIA. Ao perceber o enfraquecimento do partido na base aliada, a cúpula do PT decidiu partir para nova ofensiva a fim de recuperar espaço no governo e na aliança. A arma do momento passou a ser o cerco às medidas provisórias (MPs). Numa estratégia política, que já começa a incomodar o Palácio do Planalto, o partido decidiu trabalhar em várias vias para provocar um enfrentamento até mesmo com o presidente Lula.

Sem influência na escolha de cargos ou na definição de políticas do governo, a bancada petista decidiu demonstrar sua força. Setores do partido ameaçaram, inclusive, derrubar alguma MP enviada pelo Planalto como um recado de insatisfação. Mas a principal ofensiva foi promover o debate no Congresso para tirar a força do governo no envio de MPs.

Numa articulação do presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), a comissão especial, criada recentemente para tratar do tema, presidida pelo deputado Cândido Vaccarezza (SP), deve dar um golpe no governo: tirar das MPs o poder de trancar a pauta do Congresso, após 120 dias de tramitação. Se aprovada a proposta, o governo será obrigado a negociar antecipadamente cada MP, o que vai fortalecer muito a base aliada no Congresso.

O Planalto já identificou o golpe do PT e tenta abortar, sem sucesso, a proposta de Vaccarezza. Numa reunião com a cúpula do PMDB na semana passada, Lula colocou de forma clara sua apreensão com a possibilidade de mudanças na tramitação das medidas provisórias. O presidente reconheceu que o Congresso precisa ter condições de legislar com agilidade, mas argumentou que não poderia sair nenhuma solução que prejudicasse a governabilidade do Executivo.

- A regulamentação da tramitação das medidas provisórias preocupa o governo. Ele quer uma solução que evite o trancamento de pauta no Congresso, mas que não tire a agilidade do Executivo - disse o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que tenta barrar a ação do PT com uma proposta pela qual haveria sessões extraordinárias na Câmara e no Senado para votar as MPs.

A decisão de enfrentar o Planalto foi tomada após a bancada petista sentir que estava fora das decisões do poder. A avaliação é que o colegiado do partido perdeu força e que, atualmente, tudo passa pelas mãos dos ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Tarso Genro (Justiça). O sentimento na bancada é que Lula optou por enfraquecer o PT no seu governo após ficar refém do partido, no primeiro mandato, com a influência como a do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu.

As insatisfações são enormes. A bancada tentou recentemente emplacar um nome para o comando da Agência Nacional de Transportes Terrestres, mas Dilma decidiu indicar o assessor Bernardo Figueiredo de Oliveira, subchefe da Casa Civil, para diretor-geral do órgão regulador. A bancada também tentou emplacar um nome na Petrobras, sem sucesso. A avaliação é que até mesmo Chinaglia, que ocupa um cargo de destaque, não tem força suficiente e hoje é um interlocutor secundário de Lula.

- Há um excesso de peso de Dilma e Tarso. A bancada ficou em segundo plano - adverte Vaccarezza.