Título: Tráfego aéreo crescente no bairro preocupa
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Fonte: O Globo, 03/03/2008, Rio, p. 13

Aeroporto de Jacarepaguá recebe 70% mais passageiros em 4 anos.

Instalado numa área cada vez mais populosa, na região que mais cresce na cidade, o Aeroporto de Jacarepaguá registrou entre 2002 e 2006, segundo a Infraero, um aumento de 70% no número de passageiros (64.940 por ano) e de 16% no de aeronaves (44.702 por ano). Devido ao aumento do movimento aéreo, chegou a ser proposta a operação de linhas comerciais ligando o Rio a São Paulo, mas o projeto foi vetado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e pela prefeitura. Para a Infraero, o aeroporto ainda opera abaixo de sua capacidade (75 mil passageiros/ano). Mesmo assim, a Câmara Comunitária da Barra vem cobrando maior fiscalização do tráfego aéreo.

Autorizado a funcionar em 1971, o primeiro grande usuário do aeroporto foi o Aeroclube do Brasil, que tem sede no local, além de empresas de táxi-aéreo com vôos não-regulares. São 39 vagas para estacionamento de aeronaves, numa área de 45 mil metros quadrados. A pista tem 900 metros por 30 metros. Ao longo dos anos, além de prédios e condomínios, surgiram no entorno shoppings, restaurantes e um terminal rodoviário.

O diretor regional da Anac no Rio, Enzo Schiavo, esteve no local do acidente e garantiu que o aeroporto está preparado para receber aviões de pequeno porte e helicópteros, apesar de estar localizado em meio a condomínios.

¿ Em todos os aeroportos do Brasil, as cidades foram crescendo ao redor. O tipo de aviação que opera ali é adequado para o tipo de pista.

Para o presidente da Câmara Comunitária da Barra, Delair Dumbrosck, as obras que ampliaram o setor de embarque, feitas no ano passado, e a presença constante de helicópteros de grande porte preocupam os moradores. O local onde o avião caiu fica a cerca de um quilômetro da cabeceira da pista.

¿ Na teoria, não são permitidas linhas comerciais. Mas não é o que acontece na prática. Com freqüência, partem vôos com 25 a 30 passageiros para a Bacia de Campos. Com o acidente, fica concretizado o risco desse tráfego aéreo ¿ disse Delair, acrescentando que, na quinta-feira, a entidade vai se reunir para cobrar novamente do Ministério da Defesa, da Anac, da Infraero e do Ministério Público medidas para disciplinar o uso do Aeroporto de Jacarepaguá.

A artista plástica Ana Maria Dutra, que assistiu ao acidente da piscina de sua casa, no condomínio Mandala, é uma das moradoras preocupadas:

¿ Como podem permitir que aviões passem tão perto de residências? É um perigo. Se mudarem essas rotas para um local distante do perímetro urbano, outras tragédias como essas poderão ser evitadas.

Em 2007, o prefeito Cesar Maia baixou um decreto proibindo vôos comerciais no Aeroporto de Jacarepaguá, alegando ser da prefeitura a decisão sobre a gestão do solo. A medida, porém, é polêmica, já que cabe à União disciplinar o tráfego aéreo. Em 2004, a prefeitura autorizou a construção de um hospital de 50 mil metros quadrados nas imediações do aeroporto, sem a autorização do antigo Departamento de Aviação Civil (DAC). O estacionamento do hospital, segundo os órgãos federais, estaria em um terreno não-edificável, por ser zona de segurança aérea. A obra está embargada pela Justiça desde o fim do ano passado. A preocupação com as construções próximas ao aeroporto influenciou, por exemplo, o projeto do Centro Metropolitano, com alguns prédios mais baixos por causa da proximidade da pista.