Título: Alternativa política ganha força
Autor:
Fonte: O Globo, 03/03/2008, O Mundo, p. 24
Morte de Reyes, considerado militarista, pode facilitar negociação.
BOGOTÁ. A morte de Raúl Reyes, visto como membro da ala militarista das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), poderia abrir caminho para que a corrente política, representada, entre outros, por Iván Márquez e Alfonso Cano, assuma o controle da organização. Especialistas sobre as Farc acreditam que, a partir de agora, haverá um intenso debate interno entre as duas tendências, o que poderia debilitar ainda mais os líderes centrais do grupo.
O ex-presidente colombiano Andrés Pastrana afirmou recentemente que esta luta é intensa nesses momentos e que se a facção política vencer, poderia deixar as Farc mais predispostas ao diálogo. Pastrana previu que haveria quase uma revanche do setor político de Márquez e Cano, demonstrando ao segmento militarista, de Reyes e Jota Jota, que é hora de dialogar. Reyes era visto por alguns especialistas como um dos homens que mais obstruíram o processo de negociação tentado pelo governo Pastrana.
Farc: acordo humanitário não deverá ser afetado
Outro temor é que a morte de Reyes afete a busca de um acordo humanitário. Segundo fontes diplomáticas ouvidas pela imprensa colombiana, ele era o único contato dos três países amigos (França, Espanha e Suíça) para tentar essa alternativa. Ontem, no entanto, as Farc anunciaram, na primeira declaração do grupo após a morte dos 17 guerrilheiros, que a ação militar contra o grupo guerrilheiro no Equador não deve afetar a busca de um acordo humanitário sobre os reféns da guerrilha, entre eles a ex-candidata à Presidência da Colômbia Ingrid Betancourt. Em mensagem divulgada por internet, o grupo disse "que não vai hesitar no esforço em favor de uma troca humanitária".
A morte de Raúl Reyes é o mais duro golpe político, militar e moral contra as Farc até agora. Não apenas porque ele era um dos homens históricos da organização, mas também porque era o "coração" desse grupo guerrilheiro nas decisões do dia-a-dia.
O ex-presidente Ernesto Samper, que tentou um modelo de diálogo sob fogo com as Farc, disse que o ataque foi um "golpe no coração" da organização e que Uribe deveria "acelerar a busca de um acordo humanitário", sem reduzir a ação militar.
Com agências internacionais