Título: Ventos de guerra no continente
Autor:
Fonte: O Globo, 03/03/2008, O Mundo, p. 24
CRISE NA AMÉRICA DO SUL
Ataque colombiano às Farc dentro do Equador leva país e Venezuela a mobilização militar
BOGOTÁ, CARACAS e QUITO
A ação do Exército da Colômbia no sábado em território equatoriano - que resultou na morte de Raúl Reyes, o número 2 das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e outros 16 guerrilheiros - provocou uma séria crise diplomática na região. Equador e Venezuela chamaram de volta seus embaixadores em Bogotá, mobilizaram tropas na fronteira com a Colômbia e seus presidentes elevaram o tom das ameaças ao país vizinho, pelo que foi considerado uma grave violação da soberania equatoriana.
O presidente do Equador, Rafael Correa, pôs as Forças Armadas em alerta e disse que o país irá "às últimas conseqüências" diante da agressão colombiana. Além disso, mandou expulsar o embaixador colombiano. Por sua vez, o ministro da Segurança Interna e Externa equatoriano, Gustavo Larrea, afirmou que a Colômbia cometeu o pior atentado contra o Equador em anos. Segundo Quito, o ataque ocorreu dois quilômetros dentro do território do Equador.
Já o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, também reagiu ao bombardeio ordenando o envio de dez batalhões e de tanques para a fronteira com a Colômbia, a mobilização da Força Aérea e o fechamento da embaixada venezuelana em Bogotá. Chávez disse que apoiará qualquer decisão do presidente Rafael Correa e chamou seu colega colombiano, Alvaro Uribe, de "criminoso", "mentiroso" e "lacaio" dos EUA. Chávez anunciou que enfrentará com resolução "os ventos de guerra que sopram desde a Colômbia", e culpou os EUA pela situação, que seria uma tentativa de dividir o continente.
- Isto é uma coisa muito grave. Pode ser o começo de uma guerra na América do Sul - disse Chávez em seu programa dominical "Alô, Presidente", alertando Uribe de que uma ação similar em território venezuelano levaria a um conflito armado entre os dois países. - Que Deus nos livre de uma guerra, mas não permitiremos que se viole a soberania da nossa terra.
O governo da Colômbia disse em nota que o país não violou a soberania do Equador e agiu em legítima defesa, mas, numa tentativa de serenar a crise, o chanceler Fernando Araújo pediu desculpas a Quito.
- O governo colombiano nunca teve a pretensão ou a disposição de desrespeitar ou vulnerar a soberania ou a integridade do Equador - disse Araújo, que, no entanto, classificou a operação militar de "indispensável".
Correa: Uribe mentiu ao Equador
Após receber os informes sobre a região atacada, o presidente do Equador, Rafael Correa, afirmou que a ação militar da Colômbia na verdade se tratou de um massacre. Ele acrescentou que Uribe o havia informado sobre uma perseguição que obrigara os militares colombianos a se defenderem, após terem sido atacados por guerrilheiros das Farc na fronteira com o Equador.
- Para surpresa do governo equatoriano, foram encontrados 15 corpos de guerrilheiros e três guerrilheiras feridas - disse Correa. - Mas os cadáveres estavam com roupas de dormir, de pijamas, ou seja, não houve perseguição. Foram bombardeados e massacrados enquanto dormiam.
No sábado, Uribe disse que havia se comunicado com Correa para informá-lo sobre a ação militar. O presidente equatoriano disse que seu governo investigaria o caso. Horas mais tarde, Correa pediu explicações a Uribe.
- Se não tivermos explicações contundentes que digam que o presidente Uribe foi enganado, o que se evidencia é que, uma vez mais, ele mentiu ao governo equatoriano e invadiu nosso território - indignou-se Correa.
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