Título: Lula contém rebelião no PMDB
Autor: Pereira, Daniel; Azedo, Luiz Carlos; Colon,Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 05/05/2009, Política, p. 05

Presidente tenta acalmar os ânimos de peemedebistas. Crise começou após demissões avalizadas por Jobim

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conteve, pelo menos por enquanto, a rebelião ensaiada por líderes do PMDB devido às demissões de indicados do partido de cargos da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). Lula colocou um freio nos aliados ontem, depois de duas reuniões no Centro Cultural Banco do Brasil. Na primeira delas, conversou com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, acusado por deputados e senadores da legenda de avalizar as exonerações realizadas na estatal que administra aeroportos. Na segunda audiência, falou com o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), além do líder do PMDB na Casa, Henrique Eduardo Alves (RN), e o senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo.

Alves e Jucá eram os principais porta-vozes do queixume peemedebista. Não foi à toa. A ex-mulher do deputado e o irmão do senador foram demitidos da Infraero depois que o presidente da empresa, brigadeiro Cleonilson Nicácio, aprovou um novo estatuto no mês passado. O texto reduziu de 100 para 12 o número de cargos comissionados. Além disso, estabeleceu que quatro das cinco diretorias da estatal serão ocupadas por funcionários de carreira. ¿Quem perdeu emprego na Infraero que vá procurar em outro lugar¿, disse Jucá após a reunião com Lula. Antes do encontro, o PMDB enviara uma série de recados ao Planalto. Um deles dizia que, se as demissões não fossem revertidas, o partido apoiaria a instalação da CPI do Dnit no Senado.

Outro recado pressionava o ministro Nelson Jobim a garantir postos de comando na Infraero quando o brigadeiro Nicácio deixar a presidência da empresa. Uma ala do PMDB ainda defendeu, em conversas reservadas, a demissão do ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, por suposta incapacidade para resolver as insatisfações na base. ¿O Múcio é imexível¿, brincou ontem Alves. ¿O PMDB deixou claro que o Múcio é importante, e o presidente Lula disse que ele tem o seu respaldo¿, acrescentou Jucá. Ontem à noite, Lula receberia os três parlamentares, Jobim e os demais ministros e congressistas do PMDB num jantar no Palácio da Alvorada. O encontro seria mais um passo na campanha para assegurar o apoio do PMDB à candidatura presidencial da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Faxina A demissão dos apadrinhados de caciques do PMDB foi acertada por Jobim com o brigadeiro Nicácio como parte de um ajuste na área de pessoal estatal. Na avaliação do ministro, os problemas do setor aéreo, tanto na Infraero como na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), decorreram de falhas de gestão, em geral associadas a loteamento político de diretorias e gerências. A intenção do Ministério da Defesa é ajustar a Infraero à Política Nacional de Defesa e ao futuro programa de privatização dos aeroportos. As demissões seriam parte do processo de profissionalização da gestão da estatal e de sua transformação em sociedade anônima controlada pelo governo federal, conforme recomendação de técnicos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O brigadeiro Cleonilson Nicácio reestruturou diretorias e gerências a fim de fortalecer os quadros de carreira. Ele deve deixar a direção da Infraero em breve e voltar a um comando na Aeronáutica, sob pena de ter que se reformar devido ao tempo de afastamento da tropa. A saída do brigadeiro, inevitável, aumentou os apetites do PMDB pelo controle da empresa apesar de o partido praticamente ter sido varrido de sua direção.