Título: PT nega que tenha desprezado comissão
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 06/03/2008, O País, p. 3

Partido afirma, porém, que preferiu ficar com Finanças e Tributação e Ciência.

BRASÍLIA. O líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PE), negou ontem que o partido tenha desprezado o comando da Comissão de Direitos Humanos, que foi parar nas mãos do pedetista Pompeo de Mattos (RS), ligado à bancada da bala. Rands disse que, no momento da distribuição das comissões, o partido preferiu ter o controle de outras duas: de Finanças e Tributação e de Ciência e Tecnologia. Segundo o líder, quando a legenda iria escolher a terceira a que tinha direito, o PDT "pediu na frente".

-- Está ocorrendo uma má interpretação. Priorizamos a de Finanças e Tributação, onde passam todos os projetos, e a Ciência e Tecnologia, muito importante. Quando iríamos indicar a dos Direitos Humanos, o PDT pediu, porque era seu momento de escolher - disse Rands.

O PT presidirá quatro comissões. As outras duas são Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Legislação Participativa. O PT sequer indicou nomes para as três vice-presidências da Comissão de Direitos Humanos. A primeira e a segunda vice ficaram também com o PDT e as escolhas foram de Pompeo.

O pedetista, na verdade, queria ficar com a presidência da Comissão de Relações Exteriores. Já estava tudo acertado entre os partidos, mas o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) se opôs a Pompeo e convenceu o bloquinho - formado por partidos pequenos e de esquerda da base do governo - a trocar Pompeo por Marcondes Gadelha (PSB-PB). Gabeira é titular da comissão.

- Dos males o menor. Antes o Pompeo nos Direitos Humanos, onde um erro pode ser contornado aqui mesmo, do que nas Relações Exteriores, onde uma falha pode afetar a imagem do Brasil no exterior - disse Gabeira.

Ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos, Luiz Couto (PT-PB) criticou seu sucessor.

- O novo presidente tem posições antagônicas à luta dos direitos humanos. Temos que trabalhar para evitar que ele as coloque em prática.

Raul Jungmann (PPS-PE), que discutir com Pompeo ano passado na sessão da Comissão de Segurança Pública, evitou polemizar, mas disse que seu desafeto não tem perfil para o cargo:

- Ele não tem tradição no tema direitos humanos. Vai depender da sua postura. Não se pode condenar previamente. Vamos aguardar - disse Jungmann, novo presidente da Comissão de Segurança Pública.

A coordenadora-geral do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, Rosiana Queiroz, disse que ficou atordoada com a indicação e se reuniu com parlamentares ligados à área para discutir como manter o diálogo entre movimentos sociais e a comissão.

- A comissão é um instrumento de luta para os movimentos sociais. É um dos poucos espaços onde se pode denunciar violência policial. Se o Pompeo de Mattos não atrapalhar, pode ser que flua. Mas ele tem posicionamentos públicos sobre temas que nos assustam, como o desarmamento - disse Rosiana.

O secretário nacional de Direitos Humanos em exercício, Rogério Sotilli, evitou polemizar.

- Respeitamos a autonomia do Legislativo nas escolhas para as comissões.