Título: O destino dos embriões congelados
Autor: Jansen, Roberta
Fonte: O Globo, 04/03/2008, Ciência, p. 28

Professor da Uerj e membro do STF, Luís Roberto Barroso defenderá amanhã no plenário as pesquisas com células-tronco embrionárias. Para ele, a principal questão a ser vencida não é se uma vida em potencial pode ser usada para fins científicos, e sim o que fazer com embriões congelados. Barroso acredita que é melhor usar o material em laboratório do que descartá-lo. O advogado de 49 anos é filho de pai católico e mãe judia.

Carolina Brígido

O senhor está confiante no julgamento?

LUÍS ROBERTO BARROSO: Acho uma indelicadeza tentar adivinhar o voto dos ministros, mas sinto que o momento é favorável.

Como o senhor vê o lobby da Igreja?

BARROSO: A Igreja tem todo o direito de difundir seu ponto de vista e defendê-lo, mas o dogma religioso não pode dominar o espaço público. O lugar dele é na esfera privada.

Qual sua opinião sobre o argumento de que a vida começa com a fecundação?

BARROSO: O debate central nesse caso não é sobre o direito à vida ou o início dela. Isso é um artificialismo que criaram para desvirtuar o foco da questão. O que precisa ser discutido é o que fazer com o embrião que já existe. Acho extremamente difícil defender que jogar fora esse material é mais virtuoso do que permitir que ele seja usado para fins científicos.

Quem defende a proibição das pesquisas com células-tronco embrionárias costuma dizer que estudos com células-tronco adultas são mais promissores.

BARROSO: As pesquisas com as células embrionárias ainda não estão em um estágio de resultados. Toda pesquisa é assim, começa com tentativas e erros. Não se pode desqualificar uma pesquisa porque ela ainda não produziu resultado. Além disso, cientistas de todo o mundo apontam que este é um caminho promissor.

O STF tem agido diante de questões em que o Congresso se omite. A Lei de Biossegurança foi aprovada pelos parlamentares. O senhor acredita que é papel do Supremo mudá-la?

BARROSO: Quando o Legislativo não atua onde deveria ter atuado, acho legítimo o STF sanar a omissão. Mas, nesse caso, acho que o STF deve legitimar a decisão do Congresso. Declarar uma lei inconstitucional é um poder que deve ser usado com moderação, em respeito ao Congresso, um órgão que expressa a vontade popular.

Que tipo de prejuízo o país pode ter com a eventual proibição da pesquisa?

BARROSO: Se não fizermos as pesquisas enquanto todos os outros países estão fazendo, em alguns anos seremos importadores de tecnologia e terapias em vez de produtores. O Brasil atingiu um estágio de maturidade de desenvolvimento em que ele não pode escolher ficar a reboque dos outros, pagando royalties. É como ficar para trás na história.