Título: Furioso, Correa rejeita encontro com Uribe
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 06/03/2008, O Mundo, p. 31

Lula propôs reunião mas presidente equatoriano diz que não conseguiria ficar diante de colombiano

BRASÍLIA e CARACAS. O presidente do Equador, Rafael Correa, rejeitou a proposta de seu colega Luiz Inácio Lula da Silva de um encontro com o presidente da Colômbia, Alvaro Uribe. A proposta foi feita na reunião que durou uma hora e meia no Palácio do Planalto, segundo o próprio presidente equatoriano. O Planalto confirmou a proposta feita por Lula.

Correa disse que não conseguiria ficar frente a frente com Uribe, a quem vem chamando de mentiroso, por armar justificativas para a incursão militar de tropas colombianas em território equatoriano. O presidente do Equador deixou Brasília com o mesmo humor que chegou: disposto a atacar de todas as formas Uribe e repetindo que seu país irá \"até as últimas conseqüências\" para defender sua soberania.

- Minha pátria foi agredida, bombardeada. Tivemos que recolher cadáveres por um conflito que não é nosso. A indecência, a falta de ética é sem igual. Ante a tanta falta de vergonha, tivemos que romper relações não com um irmão, o povo colombiano, mas com o governo, que quer a guerra e não a paz - afirmou Correa (horas antes de Equador e Colômbia chegarem a acordo sobre o texto da resolução em que a Organização dos Estados Americanos (OEA) pretende mediar o conflito.

- Este governo (de Uribe) já perdeu a vergonha. Somos um povo digno, sensível e soberano. O que aconteceria se o Brasil fosse bombardeado? Por acaso não estaria em guerra? Por sermos um país pequeno vamos permitir esse ultraje? Contamos com a comunidade internacional, mas sobretudo contamos com nossa própria força, dignidade, com nossa altivez, e não permitiremos o ultraje de um governo que traiu qualquer princípio do direito internacional - disse Correa, agradecendo a Lula e ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, por, \"sem hesitar\", terem condenado a ação colombiana.

Em Manaus, antes de seguir para Venezuela, Correa comemorou ao saber da decisão da OEA. Depois, já em Caracas, após reunião com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, Correa falou da satisfação pela resolução, mas disse que \"não se sentirá tranqüilo\" até que a comunidade internacional \"condene\" a Colômbia pela violação de soberania.

- Estamos esgotando todas as instâncias diplomáticas para que se condene o agressor (a Colômbia). Se a comunidade internacional não o condenar sem meias palavras, o Equador saberá responder ao ultraje.

Hugo Chávez, dando apoio incondicional ao Equador, voltou a falar da queda nas relações comerciais e ameaçou com a nacionalização de empresas colombianas. E ironizou Uribe, sobre uma ida à Corte de Haia:

- Vamos ver quem sairá condenado, disse, repetindo que a atitude colombiana foi um crime de guerra.

No Itamaraty, Amorim frisou que Lula prestou solidariedade a Correa \"em face da violação territorial\" do Equador. De acordo com o ministro, o presidente se dispôs a continuar contribuindo para o diálogo e uma solução pacifica para a crise diplomática.

Brasil não quer EUA na mediação do conflito

Segundo o chanceler brasileiro, Lula convidou Uribe para vir ao Brasil. O presidente colombiano teria demonstrado interesse na visita, mas ainda não há data marcada. Amorim também deixou claro que a possibilidade de os EUA participarem mais ativamente do processo de pacificação dos ânimos de Equador e Colômbia não é bem-vinda para o governo brasileiro.

- Este é um problema latino-americano. Sul-americano em primeiro lugar e latino-americano em segundo lugar. Quanto mais nós pudermos manter esse problema no âmbito latino-americano, maiores são as chances de conseguirmos resolvê-lo - afirmou.

O ministro disse ainda acreditar na informação dos militares brasileiros, que asseguram não existir a presença de acampamentos ou células das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) no Brasil.