Título: CPI vai investigar convênios de ONGs com entidades ligadas à UnB
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 05/03/2008, O País, p. 4

Comissão poderá quebrar sigilo bancário e fiscal de dirigentes de editora.

BRASÍLIA. A CPI das ONGs no Senado vai aprofundar as investigações sobre entidades ligadas à Universidade de Brasília (UnB). Além da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), que pagou a mobília do apartamento funcional do reitor Timothy Mulholland, estão na mira da CPI a Editora da UnB e uma secretaria já extinta, que, segundo o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), teria beneficiado organizações não-governamentais ligadas a petistas, de 2005 a 2006. A comissão poderá quebrar o sigilo bancário e fiscal de dirigentes da Finatec e da editora.

A CPI ouviu ontem os promotores do Ministério Público do Distrito Federal Gladaniel Palmeira de Carvalho e Ricardo Antônio de Souza, responsáveis pela ação na Justiça que afastou cinco dirigentes da Finatec. O reitor também foi ouvido.

Diretor da editora teria multiplicado patrimônio

O reitor foi perguntado sobre o envolvimento da Editora da UnB num contrato firmado entre a universidade e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), para oferecer assistência médica a índios em Mato Grosso. Segundo o Ministério Público, a Funasa desembolsou mais de R$150 milhões de 2006 a 2007.

Mulholland confirmou que o diretor-executivo da editora, Alexandre Lima, está à frente do projeto:

- Ele exerce um cargo da minha confiança. Somos colegas de trabalho desde 1990. Ele articulou o programa, é natural que esteja à frente - disse.

Dias e o líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN), disseram que Alexandre Lima teria multiplicado seu patrimônio nos últimos anos. Os dois senadores estranharam o fato de que a editora da universidade coordene um projeto de saúde indígena. Segundo Dias, a editora movimentou quase R$50 milhões ano passado, mas lançou apenas 50 livros.

Os senadores pediram explicações também sobre a extinta Secretaria de Empreendimentos da UnB. O órgão teria repassado pelo menos R$9 milhões para ONGs e professores.

Entre as entidades beneficiadas, segundo Dias, estariam três organizações ligadas a petistas. Uma delas é a ONG Saber - Soluções Eficazes e Criativas em Políticas Públicas e Sociais, que teria recebido R$251 mil e pertenceria a Raimundo Ferreira da Silva Júnior, apontado por Dias como ex-dirigente do PT no Distrito Federal. As outras duas são a ONG Cidadão do Futuro, conhecida como Cidade Viva, de um candidato do PT a deputado estadual em Goiás, que teria ficado com R$161 mil; e a ONG Cata-Ventos Juventude e Cidadania, que seria de um cunhado do deputado distrital em Brasília Paulo Tadeu.

Mulholland disse que assumiu a reitoria no fim de 2005 e logo depois a secretaria foi extinta. Ele não mencionou, porém, que antes era vice-reitor e acompanhava o dia-a-dia administrativo da instituição. O presidente afastado do Conselho Superior da Finatec, Antônio Manoel Henriques, será ouvido na próxima semana.