Título: PT aceita dar presidência de CPI a PSDB
Autor: Alencastro, Catarina; Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 05/03/2008, O País, p. 5

Comissão já pode começar a funcionar, e investigação partirá das denúncias recentes.

BRASÍLIA. O PT sucumbiu ontem à pressão da oposição e de parte da base governista. Não só aceitou a divisão dos cargos de comando da CPI do Cartão Corporativo, pela qual lhe caberá a relatoria e ao PSDB a presidência da comissão, como concordou em iniciar as investigações pelas denúncias recentes de irregularidades no uso dos cartões, que atingem o governo Lula. A expectativa é que o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), leia hoje em sessão do Congresso Nacional os nomes dos integrantes da comissão indicados pelos partidos e marque a instalação da CPI para amanhã. Por enquanto, o clima voltou a ser de cordialidade entre tucanos e petistas.

Numa reunião ontem à noite, a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), indicada pelos tucanos para presidir a CPI, e o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), designado pelo PT para relator, acertaram um cronograma preliminar. Os dois foram extremamente cautelosos nas declarações, numa tentativa visível de evitar novos confrontos.

- O requerimento que embasa a CPI não fala nas contas tipo B (usadas especialmente durante o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso, antes da criação dos cartões corporativos). Mas, se na investigação aparecer algo correlato, vamos investigar - disse a tucana.

Relator quer ouvir também ministro da CGU

Já Luiz Sérgio - que vinha defendendo que a investigação partisse da criação, por lei, dos cartões corporativos, ou seja, a partir de 1998 - recuou:

- A ordem dos fatores não altera o produto.

O futuro relator da CPI afirmou que não se oporá à convocação dos ministros Orlando Silva (Esportes) e Altemir Gregolin (Pesca), assim como de Matilde Ribeiro, que deixou o Ministério da Igualdade Racial, todos envolvidos em denúncias de irregularidades no uso dos cartões corporativos. O caso mais grave foi o de Matilde Ribeiro, flagrada usando o cartão em compras num free-shop.

- Não precisamos ter pressa. Um dos primeiros que eu gostaria de ouvir é o ministro Jorge Hage (da Controladoria Geral da União) - ponderou o petista.

Uma das preocupações da senadora é concluir as investigações em no máximo 90 dias, para que o calendário da CPI não seja atropelado pelas eleições municipais. Ela rebateu também algumas especulações de que a CPI não avançaria diante dos temores de que atingiria tanto o atual governo como o passado.

- É prematuro dizer que a CPI não vai dar em nada. Mas é certo que vamos depender da boa vontade do governo, que tem as informações.

A senadora previu muitos questionamentos à qualquer alegação de sigilo que venha a ser dada pela Presidência da República para não divulgar dados sobre os cartões. Ela adiantou que submeterá a voto qualquer pedido de quebra de sigilo.