Título: As compras com a bolsa
Autor:
Fonte: O Globo, 05/03/2008, O País, p. 10

Mulheres usam dinheiro para comprar TV, beliche e material de construção.

AGRESTINA, PE. Aos 37 anos, a lavradora Mércia Josefa da Silva não sabe quantas colheitas de feijão e milho já perdeu devido às secas que assolam o Agreste de Pernambuco. Ela diz que a estabilidade financeira da família chegou com o Bolsa Família por causa dos dois filhos menores, Bruno Eric, de 12 anos, e Carolaine Evelyn, de 8: R$94 mensais. O dinheiro paga a cesta básica, o material escolar, e permitiu que economizasse uns trocados para comprar uma televisão em cores, depois de usar por três anos uma emprestada pela sogra.

- Sem a bolsa eu não conseguiria economizar, pois o dinheiro que tiro da roça só dava para a comida. Nem mesa eu tinha para comer. Depois do Bolsa Família, consegui comprar uma mesinha e a TV - conta ela, que mora na área rural de Agrestina, a 154 quilômetros da capital.

Ela diz que passou cinco anos juntando dinheiro, até que reuniu R$480 sob o colchão. Comprou a TV à vista. Agora pretende melhorar a casa de quatro cômodos, chão de cimento batido e com banheiro externo:

- Sonho em fazer o reboco e construir um murozinho.

Os outros eletrodomésticos que Mércia tem são anteriores à inscrição no programa social do governo: um aparelho de som, um liquidificador velho e uma "geladeira caindo de velha", diz.

Salomé Maria Pereira da Silva, de 34 anos, três filhos, também conseguiu comprar bens com os R$112 mensais da bolsa. Ela trabalha no roçado, mas é o dinheiro do programa social que lhe garante a comida na mesa, a roupa das crianças e até a próxima sandália que vai comprar (a única que tem está quase se partindo). Ela conta que ainda sobrou para que ela comece a realizar o maior sonho: fazer um banheiro dentro de casa. O atual é um barraco, uma "loninha" no fundo do quintal. Ela já comprou cimento, cerâmica, tijolo e chuveiro. Vai continuar juntando para pagar o pedreiro.

- Sem o Bolsa Família, o dinheiro não dava nem para comer - diz Salomé, que tem todos os filhos na escola.

Maria José da Silva, de 32 anos, quatro filhos, recebe a bolsa há cinco anos. Recebe R$142 mensais, com os quais comprou um beliche para os filhos, que dormiam ou com ela em redes ou colchões pelo chão.