Título: Um novo ensino médio
Autor: Oliveto, Paloma
Fonte: Correio Braziliense, 05/05/2009, Brasil, p. 11

Depois de propor mudanças no vestibular, MEC quer modificar a última etapa do ciclo básico. Novidades, que incluem a reformulação do currículo e maior carga horária, podem ocorrer em 2010

Depois de lançar a proposta de um novo exame de acesso às universidades como forma de reestruturar o ensino médio, o Ministério da Educação (MEC) quer que as secretarias estaduais reformulem os currículos da última etapa do ciclo básico. A ideia é que as disciplinas tradicionais desapareçam, dando lugar a núcleos temáticos divididos em três áreas do conhecimento: linguagens e códigos; matemática e ciências da natureza; e ciências humanas. Caso o cronograma do MEC não sofra alterações, o ano letivo de 2010 já começará com as novidades.

O projeto está no Conselho Nacional de Educação (CNE), integrado por membros da sociedade civil, que ontem o discutiram com o diretor de Concepções e Orientações Curriculares da Secretaria de Educação Básica do MEC, Carlos Artexes Simões. As mudanças propostas pelo ministério agradam aos conselheiros e devem ser aprovadas em junho, de acordo com o relator do processo no CNE, Francisco Cordão.

¿Diversas pesquisas mostram que os alunos deixam o ensino médio não por causa do mercado de trabalho, mas porque ele não está sendo interessante¿, argumenta Cordão, que dará parecer favorável à proposta, apelidada de Projeto Ensino Médio Inovador. ¿O que o MEC está propondo é que os sistemas de ensino discutam em profundidade os objetivos e as finalidades do ensino médio e se reorganizem.¿

A divisão curricular em áreas do conhecimento no lugar das disciplinas clássicas já é prevista pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996. No entanto, segundo Artexes Simões, as redes de ensino ainda optam pela maneira tradicional. Para ele, um dos motivos é a falta de investimentos no ensino médio. Atualmente, cada aluno custa, para o governo federal, R$ 1,5 mil por ano. A expectativa de Simões é que o valor suba para pelo menos R$ 2 mil, embora admita que ainda é muito pouco.

Mudanças Oitenta e cinco por cento das escolas de ensino médio são públicas e de responsabilidade dos estados. O MEC não tem autoridade para impor as mudanças, por isso, o documento que se encontra no CNE é um apanhado de propostas que serão apresentadas às secretarias de educação dos estados. O debate será feito também com a sociedade civil e no Congresso Nacional.

As redes que aderirem à proposta receberão apoio técnico e financeiro do MEC. O relator do processo no CNE diz que, para ter direito ao recurso e à parceria com o ministério, as secretarias estaduais poderão manter o currículo tradicional, desde que se comprometam a trabalhar as disciplinas de forma integrada.

Além da reformulação curricular, o projeto do MEC quer aumentar a carga horária das atuais 2,4 mil horas por ano para 3 mil. Ou uma hora a mais de aula por dia. Cada rede distribuiria as horas extras da forma mais apropriada. Aterxes Simões diz que também é preciso investir mais em atividades práticas, valorizar a cultura e a arte, e apostar em projetos de leitura em todas as áreas do conhecimento. ¿É preciso universalizar o ensino médio. E só o currículo não dá conta disso¿, concorda a pedagoga Clélia Brandão, presidente do CNE.

Principais alterações

Em vez das disciplinas tradicionais, as redes de ensino deverão trabalhar de forma interdisciplinar, organizando o currículo com base nas três áreas do conhecimento: linguagens e códigos, ciências humanas, e matemática e ciências da natureza

As redes oferecerão carga horária de no mínimo 3 mil horas por ano

20% das disciplinas ou dos projetos pedagógicos cursados serão escolhidos pelos próprios alunos

Haverá projetos de leitura em todas as áreas do conhecimento

As atividades práticas, como laboratórios, serão intensificadas

Haverá mais valorização das atividades artísticas