Título: Na Espanha, 60% dos brasileiros são ilegais
Autor: Guilayn, Priscila
Fonte: O Globo, 08/03/2008, O País, p. 10
NA FRONTEIRA DA DIPLOMACIA: Em 2007, cerca de 2.800 foram repatriados; imigração é assunto de campanha eleitoral
Comunidade no país já é de cem mil; 64% dos imigrantes são mulheres e prostituição é preocupação no país
MADRI. A Espanha está fechando o cerco aos imigrantes ilegais. O seu controle de fronteiras, seja por ar, terra ou água, endurece a cada dia. De 2000 a 2004, este país, que está entre os principais da União Européia em entrada de imigrantes, repatriou 257.441 pessoas. Nos últimos quatro anos, este número subiu 43,3%, para 369.142. Só em 2007 houve 55.938 repatriações: cerca de 2.800 eram brasileiros - uma comunidade que cresceu 18 vezes nos últimos 12 anos, e que hoje é de cem mil pessoas, das quais cerca de 60% são "sem-papéis".
O brasileiro que vem com a intenção de morar irregularmente na Espanha, de forma geral, não fala espanhol; comunica-se em portunhol. Seu objetivo principal é trabalhar, gastar o mínimo de dinheiro possível e enviar para a família o máximo que sobrar. Não é à toa que o Brasil é o segundo receptor do mundo, depois do México, em remessas anualmente feitas por imigrantes: US$ 5 bilhões, segundo o Banco Central, e US$6,2 bilhões, de acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Da Espanha saem, por ano, mais de US$3,25 bilhões, dos quais 34,1% tem como destino a América Latina, segundo dados da Comissão Européia, que não especifica por países.
O perfil do imigrante brasileiro é majoritariamente feminino, segundo o estudo "O Brasil e a Espanha na dinâmica das migrações internacionais", de Erika Masanet Ripoll, doutoranda de sociologia da Universidade de Alicante: 64% são mulheres, 36% homens. Elas costumam trabalhar como diaristas e cuidar de idosos; eles, como peões na construção civil. A agricultura e a hotelaria também absorvem mão-de-obra imigrante.
A Espanha foi apontada em pesquisa da ONG Cecria como principal destino do tráfico internacional de mulheres.
- Os dados da Polícia Nacional espanhola de 2006 já indicavam um crescimento do número de mulheres exercendo prostituição, apontando as brasileiras como a principal nacionalidade latina nesta situação. Entidades também apontam para um aumento de travestis e transexuais - conta a advogada e pesquisadora Verônica Teresi, do Instituto Universitário de Desenvolvimento e Cooperação da Universidade Complutense de Madrid.
A Polícia Nacional espanhola desbaratou máfias internacionais que trazem brasileiras à Espanha para explorá-las sexualmente. No último dia 21, a Operação Luna deteve três mulheres - argentina, colombiana e espanhola - que obrigavam brasileiras a exercerem a prostituição num clube de Valência.
Em campanha eleitoral - domingo haverá eleições - o Partido Socialista promete aprovar um plano contra o tráfico de mulheres para fins de exploração sexual. Já o conservador Partido Popular, na oposição, promete mão dura contra a imigração. Diz que, se eleito, criará um contrato de integração, para que o imigrante "se comprometa a respeitar os costumes espanhóis".
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