Título: Vou cuidar do ministério continuando presidente do partido, mas licenciado
Autor: Vasconcelos, Adriana; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 08/03/2008, O País, p. 14

Lupi diz que poderá voltar a qualquer momento; Planalto acompanha

BRASÍLIA E PIAUÍ. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, disse ontem que se licenciou da presidência do PDT para "acalmar a ira de forças raivosas e de gente odiosa", mas afirmou que poderá voltar a ocupar o cargo, frisando que seu afastamento é temporário:

- Vou cuidar do ministério continuando presidente do partido, mas licenciado. Não estou renunciando. Estou me licenciando e, a qualquer momento, eu posso voltar - disse Lupi, que ontem foi a Teresina, onde se encontrou com o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), de quem recebeu uma condecoração.

Lupi anunciou que o deputado Vieira da Cunha (PDT-RS), vice-presidente do partido e líder da bancada pedetista na Câmara, assumirá o comando da sigla:

- É uma sucessão natural.

Com o trauma da saída de Lupi do comando do partido, a cúpula pedetista evitou a disputa interna pelo cargo e optou por uma solução de acordo com o estatuto. Havia uma resistência de setores do partido ao fato de o deputado gaúcho acumular os dois cargos: líder e presidente.

O grupo brizolista preferia na presidência o secretário-geral e ex-deputado Manoel Dias (SC). O governador Jackson Lago (PDT-MA), que também é vice-presidente da legenda, era a opção de alguns pedetistas.

Mesmo com a licença da presidência do PDT, a situação de Lupi ainda causa desconforto ao Palácio do Planalto. Integrantes do núcleo do governo informam que nas próximas semanas será feita uma análise do quadro político para se avaliar se Lupi consegue sair da linha de tiro. Se não tiver condições de reagir politicamente, sua permanência no governo será reavaliada.

Durante quase três meses, Lupi reagiu à determinação da Comissão de Ética Pública da Presidência, que concluiu ser incompatível o acúmulo da presidência de um partido com o comando de um ministério. Ontem, auxiliares do presidente Lula registraram o fato de que, enquanto Lula estava com uma ampla agenda no Rio de Janeiro, base política de Lupi, o ministro estava em viagem no Piauí.

Reservadamente, o presidente diz que deu todas as demonstrações de apoio a Lupi e que, agora, só depende dele sair da crise. No Planalto, a constatação é que Lupi demorou para se licenciar do comando do PDT.

Por isso, a percepção hoje, tanto no governo como em setores do PDT e da base aliada no Congresso, é que a situação do ministro se deteriorou rapidamente nas últimas semanas, diante das reiteradas suspeitas de favorecimento a entidades ligadas ao PDT em convênios do Ministério do Trabalho. Com a licença, a ordem é, publicamente, dar uma trégua ao ministro.

Apesar da licença, Lupi mantém poder no PDT

Ainda que Lupi não se desvencilhe do noticiário negativo, a sua saída do governo não será fácil. Lupi tem apoio de movimentos sociais, principalmente da Força Sindical. Apesar de licenciado do cargo, permanece com poder no PDT, um partido que hoje tem 25 deputados federais e cinco senadores.