Título: Poços secos nos EUA levam Petrobras a perdas
Autor: Ordoñez, Ramona; Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 05/03/2008, Economia, p. 21

Prejuízo em perfuração foi de R$495 milhões. Alta de "royalties" no Equador também pesou no resultado internacional.

RIO e BRASÍLIA. O prejuízo de R$1 bilhão que a Petrobras amargou na área internacional no ano passado, dos quais R$940 milhões apenas no quarto trimestre, deveu-se a dois fatores: resultados negativos nas atividades exploratórias nos EUA (Golfo do México) e Colômbia; e perdas no Equador, com o aumento do pagamento de royalties sobre a produção.

O diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, explicou ontem ao GLOBO que, dos R$607 milhões de gastos exploratórios no exterior, R$495 milhões foram na perfuração de poços que resultaram secos, ou seja, onde não se encontrou petróleo, nos EUA e na Colômbia.

- Isso faz parte do risco exploratório a que está sujeita qualquer companhia - justificou Barbassa.

Segundo o diretor, as atividades no Equador resultaram em prejuízo de R$309 milhões. Essa perda foi devida ao aumento em 99% no pagamento de royalties sobre a produção da Petrobras no país, que é de 12,7 mil barris diários.

Empresa falhou no controle de custos, diz analista

Para o gerente de análises do Modal Asset, Eduardo Roche, a Petrobras falhou ao não adotar um controle eficiente de custos de refino e de exploração:

- Com a demanda crescente e a escassez de infra-estrutura para produção, associada ao alto preço das commodities, era natural que o custo aumentasse. Mas faltou um controle mais eficiente da empresa, tanto no refino quanto na exploração.

Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura, engrossa o coro, e insiste que a empresa deveria fazer repasses de preços períodicos.

- O lucro da área de abastecimento no quarto trimestre de 2007 foi de R$278 milhões, com queda de 78% na comparação com o terceiro trimestre, quando o resultado foi de R$1,264 bilhão. Essa discrepância foi provocada pela falta de repasse dos preços do petróleo para o mercado nacional, quando as cotações chegaram ao pico, num momento em que houve redução das exportações de derivados e aumento de 41% no custo do refino - diz.

Já o analista Felipe Cunha, da Brascan Corretora, destacou um aumento de 12% no custo de produção no Brasil entre o terceiro e o quarto trimestres de 2007. Mas Cunha tem uma perspectiva positiva para a empresa este ano. Ele cita um esperado aumento de produção, a recomposição das reservas por meio de descobertas importantes, como a do campo de Tupi, investimentos no refino e a estratégia de internacionalização da empresa, com a compra de refinarias no exterior - o que permitirá a venda do produto processado com margens maiores.

A União, acionista majoritária, já esperava o recuo nos lucros. Uma fonte do governo citou o descasamento entre o ritmo de expansão das receitas e o custo crescente de operação, que chega a 300% em algumas áreas. O aluguel de uma sonda, que custava cerca de US$100 mil por dia, agora não sai por menos de US$400 mil. Mas para a fonte, "uma empresa com lucro líquido de R$21,512 bilhões não está com problemas".

COLABOROU Mônica Tavares