Título: Lula faz crítica a inércia de prefeitos
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Fonte: O Globo, 08/03/2008, Rio, p. 20

Para ele, se cada administrador tivesse feito um pouco, PAC não seria necessário

Em seu primeiro discurso, no Complexo do Alemão, ontem de manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou administradores que, segundo ele, durante décadas nada fizeram, obrigando o governo federal a realizar agora uma intervenção do porte do PAC. A crítica foi especificamente direcionada aos prefeitos. Na comunidade do Alemão, o presidente disse estar cansado de ver o Rio aparecendo nas primeiras páginas dos jornais como se simbolizasse a violência.

- Se cada prefeito tivesse feito um pedacinho, a gente não teria que anunciar hoje uma coisa que poderia ter sido feita em 1950, 1960, 1970, 1980, 1990, 2000 - disse Lula.

Nos últimos anos, a relação entre os governadores e a União tem sido de oposição. Agora, o entrosamento entre Sérgio Cabral e Lula tem trazido para o Rio investimentos cada vez maiores.

Segundo a cientista política Lucia Hippolito, a maioria dos governadores do Rio sempre fez oposição ao governo federal, o que prejudicou o estado.

- O Rio sempre foi o trampolim para se chegar à presidência da República e, por isso, sempre foi de oposição. Governar o Rio era como se fosse um pit stop e isso tirou muitos investimentos - analisou Lucia Hippolito.

A boa relação entre Cabral e Lula é um ponto favorável para o Rio, na avaliação de Marcello Alencar, ex-governador e que foi prefeito da cidade por dois mandatos.

- A política exige entendimento. Cabral está certo. É um rapaz ágil, esperto e que conseguiu conquistar o presidente. Com isso, o Rio tem tirado proveito - disse Marcello.

O tom do ex-governador, no entanto, muda em relação às críticas aos prefeitos:

- Lula faz com os que exerceram o poder antes um saco de pancadas dele. Lula faz um discurso de campanha. Fui prefeito duas vezes e acho que fiz bastante. Tanto que o povo me elegeu governador.

O prefeito Cesar Maia ironizou as declarações:

- O Lula, certamente suado, não leu a Constituição. Ou na hora de falar se lembrou de que o governador estava a seu lado. Segurança pública, segundo a Constituição, que, aliás, ele se negou a assinar, é com os estados e com o governo federal. E se esqueceu de que, na maior parte desses anos, o prefeito era do governo federal. Enfim, o trapalhão de sempre. E depois não sabe porque leva vaia no Rio e tem que vir cercado de Exército e polícia.

O prefeito, por sinal, não apareceu em nenhuma das solenidades, apesar de o município estar investindo cerca de R$50 milhões nas obras, incluindo a construção de creches, praças e áreas de lazer. Ele foi representado pelo secretário do Habitat, Luiz Humberto Côrtes de Barros.