Título: Impacto da crise dos EUA pode reduzir PIB brasileiro em mais de 0,7 ponto
Autor: Ribeiro, Fabiana; Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 08/03/2008, Economia, p. 40
AMEAÇA GLOBAL: Meirelles fala em conseqüências da "exuberância excessiva"
Mantega diz que economia teria crescido entre 5,2% e 5,3% no ano passado
O Banco Central (BC) poderá revisar sua estimativa do impacto da crise americana sobre o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos) brasileiro. Em seu último relatório de inflação, divulgado em dezembro, a instituição previu que a desaceleração da economia americana reduziria o PIB brasileiro em 0,7 ponto percentual em 2008, para 4,5%. Para 2007, calcula-se que a previsão de expansão teria sido de 5,2%. De acordo com o presidente do BC, Henrique Meirelles, o Fed (Federal Reserve, o BC americano) está tomando todas as medidas necessárias para dar mais liquidez ao mercado, "mas não há dúvida de que a situação americana é muito difícil".
- O momento é de expectativa na medida em que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) vai divulgar, na próxima semana, os números do PIB de 2007. A partir daí, vamos começar a fazer nossas análises para publicar nossa previsão de 2008 no mês de março - afirmou, ao participar do encontro anual do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), ontem no Rio.
Mantega: crise do "subprime" não chegou a Copacabana
Mais otimista, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que "a crise do subprime não chegou à praia de Copacabana". Ele prevê um crescimento do PIB acima de 5% em 2007, impulsionado por demanda interna e investimentos. Um ritmo que, em sua avaliação, deve prosseguir até 2010:
- O crescimento de 2007 deverá ser em torno de 5,2% e 5,3%. Teremos esse resultado na próxima semana, mas já sabemos que foi acima de 5%.
Para o ministro, essa expansão pode ser comparada ao que se viu nos "tempos dourados da economia brasileira".
- Em termos de renda per capita, o Brasil cresce mais do que crescia nos anos 50, 60 e 70, quando a taxa de crescimento do PIB era de 7% e a de crescimento da população brasileira, 3%. Hoje, a população cresce a uma taxa de 1,3%. Portanto, o crescimento da renda per capita já se equiparou ao dos tempos dourados - disse Mantega.
Meirelles frisou que o Brasil está mais bem preparado para enfrentar um cenário de desaceleração dos EUA e destacou que os primeiros reflexos da crise no país e nas economias emergentes foram menores do que se esperava. E acrescentou que o crescimento está respaldado pelo aumento da demanda doméstica. Além disso, o país tem balança de pagamentos forte, reservas internacionais elevadas e situação fiscal positiva.
- Hoje, há uma relação cadente de dívida pública total em relação ao PIB, superávit fiscal acima da meta e inflação consistente com a meta, segundo estimativas do mercado. Isso dá ao Brasil as condições que se refletem nos atuais indicadores.
Apesar do tom otimista e sem citar a Bolsa, Meirelles alertou para o risco de formação de bolhas no mercado brasileiro.
- Situações positivas e fundamentos fortes por períodos prolongados, muitas vezes, levam a alguns exageros de precificação dos mercados e isso sempre tem uma correção custosa. Exuberância excessiva sempre tem custos posteriores.