Título: Zapatero é reeleito e PSOE cresce na Espanha
Autor: Guilayn, Priscila
Fonte: O Globo, 10/03/2008, O Mundo, p. 25

Socialistas conseguem 43,7% dos votos e derrotam conservadores do PP. Partidos nacionalistas perdem espaço

MADRI. José Luis Rodríguez Zapatero foi reeleito ontem para comandar a Espanha por mais quatro anos. Com 43,7% dos votos, o líder socialista se manterá na Presidência do governo espanhol, sendo que, no próximo mandato, governará mais tranqüilo: terá 169 deputados, cinco a mais do que no atual governo. Em 2004, o PSOE fora eleito com 42,59%, conseguindo 164 deputados. O Partido Popular teve 40,1% dos votos e também cresceu, conseguindo uma representação de 153 parlamentares (atualmente tem 148). Os resultados apontaram para a consolidação de um panorama bipartidário, com o enfraquecimento dos partidos menores e dos nacionalistas.

A Esquerda Unida (IU), terceiro maior partido de caráter nacional, perdeu três cadeiras, ficando com apenas duas. O Partido Nacionalista Basco (PNV), à frente da governo regional do País Basco desde 1980, obteve seis deputados (um a menos do que hoje). O Bloco Nacional Galego manteve seus dois deputados. Na Catalunha, o partido autonomista moderado Convergência e União (CiU) foi o único a crescer entre os nacionalistas, elegendo um deputado a mais e se mantendo como terceira força política espanhola, com 11 parlamentares. O independentista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) foi o partido que recebeu o maior golpe: de oito cadeiras, caiu para três.

Partidos bascos e catalães poderiam entrar no governo

O PNV e o CiU são algumas das possibilidades de alianças que Zapatero terá para o próximo mandato, pois, apesar da vitória, o PSOE não conseguiu a maioria do Congresso (eram necessários pelo menos 176 deputados para isso). Nos últimos quatro anos, os nacionalistas bascos mantiveram relações cordiais com o governo, que recebeu o lehendakari (governador basco), Juan Ibarretxe, no Palácio da Moncloa, atitude não adotada pelo mandatário anterior, José María Aznar, do PP. A CiU também poderia ser cogitada para uma coalizão, apesar de ter uma tendência mais conservadora do que o PSOE.

Os socialistas também venceram na Andaluzia, única comunidade autônoma cujo governo estava em disputa ontem.

Zapatero agradeceu pela vitória a uma multidão de eleitores que se concentraram na frente da sede socialista, em Madri:

- Recebi a felicitação de Mariano Rajoy, pela qual agradeço, e manifesto meu respeito. Os espanhóis falaram claro e decidiram apostar numa nova etapa sem tensão, sem confronto e com acordos nos assuntos de Estado - discursou Zapatero, que também mencionou, indiretamente, a polêmica proposta do PP de obrigar imigrantes a assinarem contratos com o governo. - Prometo defender os valores constitucionais e da convivência, por uma Espanha unida e diversa, que vive em liberdade e com tolerância.

Rajoy diz que PP foi partido que mais cresceu

Dos 35 milhões de eleitores espanhóis, cerca de 75% compareceram às urnas. Cientistas políticos já haviam prognosticado que as chances de o Partido Popular ganhar estariam diretamente ligadas a uma abstenção maior do que 30%.

- Desejei sorte a Zapatero pelo bem da Espanha. Quero agradecer a todos vocês e dizer que este partido estará à altura das circunstâncias, defendendo nossos valores - disse Rajoy, que, no entanto, comemorou o crescimento do PP em relação às eleições de 2004. - Somos o partido que mais subiu em votos, em cadeiras e em percentual de votos.

Em uma recente entrevista, perguntado qual seria seu primeiro telefonema e sua primeira medida se conseguisse a reeleição, Zapatero respondeu: "Ligaria para meu pai. E, em seguida, faria contato com sindicatos e empresários, para fechar um acordo social que respaldasse os trabalhadores que estão perdendo empregos no setor da construção". A crise nos setores imobiliário e da construção deverá causar, segundo alguns economistas, a demissão de até um milhão de pessoas este ano.

As pesquisas de boca-de-urna já indicavam a vitória de Zapatero. Com isso, os socialistas foram tomados pela euforia menos de uma hora depois do fechamento das urnas, com apenas 16% dos votos apurados, fazendo uma festa de bandeirinhas vermelhas na sede madrilenha do partido.

As eleições de ontem transcorreram com normalidade, mas sob a sombra do terrorismo: sexta-feira, um ex-vereador socialista foi assassinado na cidade de Mondragón, no País Basco.