Título: Crise humanitária em Gaza é a mais grave em quatro décadas
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 07/03/2008, O Mundo, p. 32
ONGs denunciam calvário palestino causado por bloqueio de Israel
TEL AVIV. O embargo israelense à Faixa de Gaza mergulhou os cerca de 1,5 milhão de palestinos na região na mais grave crise humanitária dos últimos 40 anos. Segundo relatório divulgado ontem, mais de 1,1 milhão de palestinos dependem de ajuda humanitária para sobreviver ¿ 80% da população. O dossiê foi elaborado pela Anistia Internacional em parceria com outras oito organizações não-governamentais da Grã-Bretanha, entre elas Save the Children, Care International e Christian Aid. O estudo revelou ainda uma taxa de desemprego que chega aos 40% da população economicamente ativa. Trata-se da mais dura crise desde 1967, quando Israel ocupou pela primeira vez a Faixa de Gaza após a vitória na Guerra dos Seis Dias.
Além da falta de água potável, alimentos e combustível, hospitais sofrem com cortes de energia que chegam a 12 horas por dia. A economia entrou em colapso e milhares de agricultores perderam a produção devido ao fechamento de fronteiras por Israel. Outros 70% dos mais de 110 mil que trabalhavam no setor privado perderam o emprego no último ano.
Temor de que violência mantenha fronteira fechada
Os números foram coletados antes da última escalada de violência que tomou conta de Gaza na última semana, quando dezenas de mísseis foram lançados contra Israel e uma operação militar israelense deixou pelo menos 116 mortos. Há temores de que caso Israel não permita a abertura das fronteiras, Gaza entre em colapso.
¿ Israel tem o direito de se defender e proteger seus cidadãos, mas como força que ocupa tem o dever de garantir que os moradores de Gaza tenham acesso à comida, água potável, eletricidade e atendimento médico. Punir uma população inteira negando-lhes esses direitos básicos é completamente inaceitável. A situação precisa ser revertida urgentemente ¿ disse a diretora da Anistia, Kate Allen.
Israel refuta as acusações. Segundo o ministério das Relações Exteriores, a culpa pela situação recai unicamente sobre o grupo radical islâmico Hamas, que tomou o poder à força há um ano. Em nota, Israel afirma que as instalações humanitárias de Gaza estão sob controle do Hamas e desde o início do ano pelo menos 84 comboios de ajuda humanitária já foram transferidos para o território palestino.
Em Gaza, as estatísticas foram recebidas com preocupação. Segundo o jornalista Zouhir Alnajjar, os moradores não precisam de números para compreender a crise. O número de ataques com foguetes Qassam preocupa a população civil, ciente de que Israel não vai afrouxar o controle das fronteiras num futuro próximo.
¿ Israel alega ter saído daqui com o plano de desconexão do ex-premier Ariel Sharon em 2005. No entanto, os palestinos de Gaza continuam vivendo sob a ocupação. (R.M).