Título: Terror em escola de rabinos
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 07/03/2008, O Mundo, p. 32
Palestino abre fogo em seminário e mata 8 no maior atentado em Jerusalém em 4 anos
Pelo menos oito israelenses morreram e outros dez ficaram feridos no maior atentado terrorista perpetrado em Jerusalém nos últimos quatro anos. Por volta das 21h (16h de Brasília), um palestino entrou no seminário rabínico Merkaz Harav, no bairro de Kiriat Moshe, e abriu fogo com um fuzil Kalashnikov na biblioteca onde pelo menos 80 alunos estudavam o Velho Testamento. Houve momentos de pânico e um dos estudantes, oficial do Exército, abriu fogo contra o agressor. O terrorista tinha preso ao corpo um cinturão de explosivos que teve de ser desativado por agentes do esquadrão antibombas.
Segundo testemunhas, o palestino conseguiu entrar no seminário sem ser percebido e sacou a arma de dentro de uma bolsa. A biblioteca estava lotada de alunos que comemoravam a chegada do mês hebraico de Adar, quando se celebra a festa do Purim, o carnaval judaico. Após o ataque, centenas de estudantes ocuparam as ruas de Jerusalém gritando ¿morte aos árabes¿.
Barak fará reunião de emergência
Criado em 1924, o seminário rabínico é um dos símbolos do nacionalismo religioso israelense e pelo menos 800 estudantes entre 18 e 31 anos de idade circulam diariamente por seus corredores. O jovem Yehuda Tibi, de 18 anos, conta que se escondeu atrás de um armário de livros para escapar do tiroteio.
¿ O terrorista gritou várias vezes ¿Alá seja louvado¿. Um dos meus amigos se jogou contra ele e derrubou o fuzil. O que aconteceu depois eu já não sei, pois me escondi atrás do armário até que tudo terminasse. Ouvi meus amigos gritando ¿chega, chega¿ ¿ disse ele.
O serviço de inteligência de Israel acredita que havia outro terrorista dando cobertura ao agressor. Todos os acessos a Jerusalém foram fechados e a polícia deslocou dezenas de agentes para tentar identificar o segundo homem. De acordo com as primeiras investigações, o terrorista é morador de Jerusalém Oriental e tinha cidadania israelense.
O Conselho de Segurança da ONU realizou ontem uma reunião de emergência, mas não conseguiu chegar a um consenso sobre um rascunho elaborado pelos Estados Unidos, classificando o ataque como um ato ¿terrorista¿. O ministro da Defesa, Ehud Barak, convocou uma reunião de emergência hoje para discutir uma resposta ao atentado.
Horas após o ataque, tanques israelenses abriram fogo contra supostos alvos do Hamas próximo ao posto de controle de Kissufim, na Faixa de Gaza. Segundo fontes palestinas, quatro militantes da Jihad Islâmica foram mortos quando helicópteros da Força Aérea bombardearam alvos na cidade de Khan Yunis, no norte de Gaza. O ataque seria uma resposta israelense ao lançamento de foguetes contra a cidade de Sderot.
Num comunicado divulgado à rede de TV libanesa al-Manar, do grupo guerrilheiro xiita Hezbollah, a autoria do ataque seria do grupo ¿Brigadas da Libertação da Galiléia ¿ Mártires de Imad Mughniyeh¿. O atentado seria uma resposta ao assassinato do número dois do Hezbollah, Imad Mughniyeh, morto num atentado em Damasco no mês passado.
Na Faixa de Gaza, dezenas de homens armados saíram às ruas para comemorar o ataque contra civis israelenses. O grupo radical islâmico Hamas negou envolvimento no atentado, mas parabenizou seus autores. Já o porta-voz do braço armado da Jihad Islâmica, Abu Ahmad, culpou Israel pelo massacre. Segundo ele, os israelenses devem esperar por outros ataques em resposta às ofensivas contra civis palestinos em Gaza.
¿ A responsabilidade pelo ataque é do governo que matou mais de 120 civis e crianças em Gaza na semana passada. Abençoamos os responsáveis pelo feito heróico e estamos seguros de que é apenas a primeira resposta palestina às ações criminais de Israel ¿ disse Abu Ahmad.
O presidente americano, George W. Bush, telefonou à noite para o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, para prestar condolências. Na Cisjordânia, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, condenou o ataque e reiterou sua indignação com a morte de civis, israelenses e palestinos. Apesar do incidente, Israel garante que as negociações de paz com a Autoridade Nacional Palestina devem continuar nos próximos dias.