Título: Itamaraty festeja bem-sucedida mediação do Brasil
Autor: Azevedo, Cristina
Fonte: O Globo, 07/03/2008, O Mundo, p. 34

Resolução e isolamento de Hugo Chávez são consideradas vitórias

BRASÍLIA. A resolução aprovada na última quarta-feira pelos países-membros da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington, teve um sabor de vitória para o governo brasileiro. Não só por conta da criação de uma comissão de investigação para apurar como ocorreu a incursão de tropas colombianas em território equatoriano no sábado, mas porque, apesar dos discursos bélicos do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, Caracas ficou praticamente alijada do processo de negociação na reunião da OEA.

- Conseguimos tudo o que queríamos - disse um alto diplomata brasileiro que participa, na República Dominicana, da reunião do Grupo do Rio, formado por presidentes e chefes de Estado da América Latina.

Para o governo brasileiro, nesse episódio a principal ameaça vinha de Chávez, que enviou tropas para a fronteira, mas na quarta-feira começou a se definir como um pacifista. Os venezuelanos, comentou um embaixador, votaram como qualquer outro país associado à OEA na reunião do Conselho Permanente do organismo, enquanto o Brasil, representado por Osmar Chohfi, foi chamado várias vezes na difícil negociação entre Equador e Colômbia.

- É inevitável o crescente envolvimento do Brasil em crises na América do Sul. O Brasil não pode mais fazer como no passado, que era ficar confortavelmente numa posição de que os conflitos não eram de interesse brasileiro - disse o embaixador José Botafogo Gonçalves, presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais.

Especialistas acham que país ainda está "em cima do muro"

Para Botafogo, embora tenha considerado correta a atuação do Brasil no impasse entre Colômbia e Equador, o país está "em cima do muro" em relação às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Ele acredita que Lula deveria ter sido mais enfático, ao condenar o terrorismo praticado pelas Farc.

O diretor do Instituto Internacional da Fundação Armando Alvares Penteado, o embaixador Sérgio Amaral, concorda com a avaliação de Botafogo. A forma como agiu Lula foi positiva, por ter contribuído para arrefecer os ânimos, "colocar um pouco de água fria na fervura". No entanto, afirmou, os pronunciamentos do governo brasileiro foram parciais.

- O governo brasileiro não tocou no fato de que as Farc são uma guerrilha, que ataca cidadãos colombianos e usa territórios fronteiriços como refúgio - disse Amaral, cujo último posto foi o de embaixador do Brasil em Paris.

O professor de relações internacionais da UnB Virgílio Arraes considerou "corretíssima" a atuação do Brasil. O país levou o problema para a OEA e foi incluído na comissão investigadora, que funcionará como uma espécie de "grupo de amigos".