Título: Colombianos denunciam violência paramilitar
Autor: Azevedo, Cristina
Fonte: O Globo, 07/03/2008, O Mundo, p. 34

Milhares de pessoas protestam em cidades do país e no exterior contra grupos armados de direita e acusam governo

BOGOTÁ. O objetivo era dar visibilidade às vítimas dos paramilitares, muitas vezes esquecidas diante do confronto com a guerrilha. E milhares de pessoas atenderam ao chamado, reunindo-se ontem em Bogotá e outras cidades colombianas numa passeata contra os paramilitares, os crimes de Estado e em solidariedade às vítimas da violência que deixou mais de 30 mil desaparecidos no país. O ponto alto, na capital, onde a manifestação reuniu cerca de 40 mil pessoas, foi a concentração na Praça de Bolívar, onde uma imensa faixa mostrava fotos das vítimas. No fim do ato, porém, houve distúrbios provocados por paramilitares, segundo o comandante da Polícia Metropolitana, Rodolfo Palomino. Os agressores explodiram coquetéis molotov, mas ninguém ficou ferido com gravidade. A manifestação se repetiu em outras cidades no exterior, como Paris, Madri, Washington, Londres e Caracas.

Em Bogotá, os manifestantes partiram de 12 pontos diferentes, carregando bandeiras da Colômbia, faixas e cartazes. Muitos levavam pendurada no peito a foto de algum familiar vítima da violência no país. No fim do ato Segundo Claudia Girón, da Fundação Manuel Cepeda, a adesão superou as expectativas.

¿ Queremos mostrar que houve uma relação de cumplicidade do Estado com os paramilitares ¿ disse. ¿ Condenamos todos os atos de violência.

A manifestação não teve apoio de partidos ligados ao governo, que alegaram que os crimes de Estado denunciados ocorreram em administrações passadas. Os organizadores se queixavam da pouca cobertura da manifestação. Muitos veículos a divulgavam apenas como marcha contra a violência. Além disso, houve ameaças pela internet para que a passeata não se realizasse.

Havia pessoas de todas as partes do país. A agricultora Monica Benítez era uma das pessoas expulsas de suas terras pela guerrilha. Ela saiu de um assentamento em Medellín para participar da manifestação em Bogotá.

¿ Tivemos de sair. Os paramilitares entraram matando todos, sem perguntar nada. Fomos para Medellín, mas aconteceu de novo. Meu marido e meu sobrinho foram mortos ¿ contou, com lágrimas nos olhos.

Outros, como Octavio Collazos, com um cartaz escrito à mão, pediam um acordo humanitário para libertar os reféns dos grupos armados.