Título: OMS desmente exagero
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 05/05/2009, Mundo, p. 20

Casos confirmados passam de mil e autoridade sanitária mundial avisa que perigo não foi superado

No mesmo dia em que o número de casos confirmados da gripe suína ultrapassou a marca dos mil, a diretora-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Margaret Chan, respondeu às críticas de que a reação do organismo à expansão da doença foi exagerada. Segundo ela, um aparente declínio nas taxas de mortalidade dentro e fora do México não significa que a pandemia está chegando ao fim, já que há a possibilidade de ocorrer um segundo surto, até mais letal, como ocorreu com a gripe espanhola, em 1918 e 1919. Até agora, o vírus já contaminou 1.085 pessoas em 21 países e matou 26, quase todas em território mexicano.

Em entrevista ao jornal Financial Times, Chan justificou as ações da OMS até agora e garantiu que a atuação não foi desproporcional à gravidade do surto. ¿Havia grande ansiedade e nervosismo. Isso é compreensível. Todos os governos estão preocupados e levando muito a sério. Agora, imagine se, com o tipo de informação que tínhamos, eu não sensibilizasse os funcionários da saúde pública em todo o mundo e, em três ou quatro dias, isso estourasse?¿, questionou a diretora.

Ela ainda vê com cautela a aparente melhora no quadro mundial ¿ o aumento no número de contaminados, segundo especialistas, se refere mais à confirmação por parte dos laboratórios do que ao surgimento de novas vítimas. ¿Se vier a acontecer (um segundo surto), ele será maior do que todos os surtos que o mundo enfrentou no século 20. Esperamos que o vírus desapareça, senão estamos seguindo em direção a um grande surto¿, afirmou Chan.

A preocupação da diretora da OMS é considerada plausível por James Crowe, professor do Departmento de Microbiologia e Imunologia do Centro Médico da Universidade Vanderbilt (Tennessee). ¿Historicamente, temos visto que uma segunda onda de pandemia pode ser mais séria que a primeira. Portanto, mesmo que haja uma redução nos casos agora, os governos devem continuar se preparando para um segundo surto¿, disse ao Correio. Para o infectologista Rich Whitley, da Universidade do Alabama, uma segunda onda de contaminação é certa. ¿Essa é a trajetória natural de um surto de gripe humana. O Hemisfério Sul, inclusive o Brasil, está entrando na estação da gripe agora. O resto do mundo está esperando o que vai acontecer nessa região¿, garantiu Whitley.

De fato, ontem o diretor adjunto da OMS, Keiji Fukuda, alertou que o vírus A (H1N1) está indo em direção ao Hemisfério Sul, onde o inverno começa em junho. Ele tentou, contudo, evitar alarde. ¿Se o vírus se movimentar ao Hemisfério Sul, quando isso ocorrerá? É muito difícil de prever e não quero levantar falsas expectativas¿, afirmou. A grande maioria dos casos ainda tem sido registrada na América do Norte e na Europa. Na América do Sul e até na Ásia, as suspeitas de contágio estão relacionadas a pessoas que viajaram às regiões mais afetadas.

Bom senso Os especialistas, no entanto, sustentam que não há razão para pânico. ¿A doença, até agora, se parece com uma gripe sazonal. Temos medicamentos efetivos e só precisamos usar o bom senso: permanecer em casa se ficarmos doentes, não expor os outros à doença¿, destacou o infectologista do Alabama. ¿Sabemos que novos vírus geraram pandemias no passado, mas sabemos que muitos vírus novos não causaram pandemias e desapareceram. Mas temos um plano global de contenção de pandemias de gripe na OMS, assim como planos nacionais em cada país¿, tranquiliza o diretor do Centro de Pesquisas de Patógenos Emergentes da Universidade de Ottawa, Earl Brown.

Dirigindo-se ontem à Assembleia Geral das Nações Unidas, a partir de Genebra, a diretora-geral da OMS descartou a necessidade de elevar agora o alerta da organização para o nível 6, que já caracteriza uma pandemia instalada. ¿Não sabemos de quanto tempo dispomos antes de passar à fase 6. Mas ainda não estamos lá¿, declarou.

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O número Sem parada 1.085 casos de gripe suína estavam onfirmados até ontem, em 21 países. A OMS contabiliza 26 mortes, das quais apenas uma não ocorreu no México, mas a vítima era um bebê mexicano que chegara doente aos EUA.