Título: O futuro dos imigrantes em jogo nas urnas
Autor: Guilayn, Priscila
Fonte: O Globo, 07/03/2008, O Mundo, p. 36

Direita endurece discurso contra presença de ilegais. Para candidato do PP, país `importa delinqüentes¿

MADRI. A ONU já advertiu: a Espanha terá em 2050 a população mais envelhecida do mundo. Por isso, deverá se abrir para receber 12 milhões de imigrantes ¿ cerca de 240 mil por ano, se quiser equilibrar-se demograficamente. Dos atuais 45 milhões de habitantes do país, cerca de 4,5 milhões são estrangeiros. As estatísticas mostram que a natalidade tem aumentado graças aos imigrantes. Outros estudos revelam que a contribuição imigrante para a Previdência Social tem possibilitado o pagamento de mais de um milhão de aposentadorias aos espanhóis. A imigração ilegal, no entanto, tem sido duramente combatida, com 369.142 repatriações só neste governo. Com isso, os ilegais foram um dos temas desta campanha eleitoral que acaba no domingo.

Governo e oposição discutem números de ilegais

Uma das brigas entre esquerda e direita, entre o presidente do governo socialista, José Luis Rodriguez Zapatero, do PSOE, e o candidato do conservador do Partido Popular (PP), Mariano Rajoy, é em torno das cifras. A oposição afirma que há mais de 1,2 milhão de imigrantes ilegais no país. As estimativas do governo ficam em cerca de 200 mil.

Em 2004, quando Zapatero foi eleito depois de oito anos de governo do Partido Popular, o número de irregulares era de um milhão. Para reduzi-los, em 2005 foi realizada uma maciça regularização: empresários formalizaram contratos de 688.319 trabalhadores em situação ilegal. Rajoy acusa o governo de ter criado um ¿efeito chamada¿. Em 2002, Rajoy, então ministro de Interior de José María Aznar, também levou a cabo um processo de regularização, para 239.174 imigrantes, embora não exigisse ao imigrante vínculos laborais.

¿ A chegada de imigrantes, desde 1998, foi muito positiva para a economia. Como os juros estavam baixos, geraram-se muitos empregos. E a economia crescia graças aos baixos salários que os empresários pagavam aos estrangeiros. Mas agora, a situação mudou ¿ alerta Gonzalo Bernardos, catedrático de teoria econômica da Universidade de Barcelona. ¿ A Espanha já não tem capacidade, ou seja, empregos suficientes, para absorver o número de imigrantes que acolheu até agora. O desemprego, com isso, aumentará para nacionais e estrangeiros.

O receio de que não haja oportunidades para todos vem criando campanhas antiimigração, como a do partido catalão Convergência e União, que diz: ¿As pessoas não vão embora de seus países por vontade e sim por fome, mas na Catalunha não cabe todo o mundo¿.

¿ Campanhas como esta dão uma imagem falsa de saturação do mercado. Foi graças a esta imigração que tivemos um alto índice de crescimento econômico ¿ contesta Miguel Pajares, presidente da Comissão Catalã de Ajuda ao Refugiado. ¿ A imigração está sendo apresentada como algo negativo que devemos prevenir, como uma ameaça à nossa sociedade. Aí reside o caráter xenófobo de tudo isso.

Rajoy também endureceu seu discurso. Prometeu criar um contrato de integração e uma espécie de visto por pontos. No primeiro debate, o líder do PP falou que a Espanha ¿importa delinqüentes¿.

¿ São propostas com certa dimensão xenófoba ¿ afirma o cientista político Carlos Taibo, professor da Universidade Autônoma de Madrid. ¿ Rajoy, quando fala de imigração, costuma mencionar as gangues latino-americanas. Ele relaciona o aumento da delinqüência com o crescimento da imigração.

Nos tempos das vacas magras, a Espanha foi um país de emigrantes, durante, principalmente, a segunda metade do século XIX e a primeira do XX. Milhões de espanhóis se espalharam pela América Latina e pela Europa. Desde 1986, porém, com sua entrada na União Européia, a situação econômica só fez melhorar e, conseqüentemente, os imigrantes começaram a chegar. Marroquinos, equatorianos e colombianos são maioria.