Título: Via Campesina invade a Codevasf
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 07/03/2008, O País, p. 9

Mulheres ligadas ao MST destruíram residência em engenho.

RECIFE. Em Petrolina, a 769 quilômetros de Recife, cerca de 500 mulheres ligadas à Via Campesina invadiram ontem a sede da Companhia de Desenvolvimento do Rio São Francisco (Codevasf), para protestar contra o modelo implantado na região, conhecida como a Califórnia brasileira, onde há cultivo da fruticultura irrigada para exportação. Elas reclamaram do modelo "excludente" que, segundo elas, beneficia as empresas.

Cerca de 150 mulheres ligadas ao MST ocuparam o engenho Cachoeiro Dantas e incendiaram sua sede, no município de Água Preta, a 170 quilômetros da capital. Elas destruíram a residência com a ajuda de companheiros do Movimento e da Via Campesina. A Polícia Militar enviou 30 homens ao local, houve tiros para o alto, correria e ameaças de prisão. Até ontem à noite, elas permaneciam no local, mas disseram que os proprietários do engenho estavam cercando o acampamento com milícias privadas. No início da tarde, a situação havia sido contornada com a presença do promotor de Água Preta, Darwin Silva.

Segundo o MST, a presença de seguranças era ostensiva por volta de 19h. O proprietário não foi localizado por telefone. A residência ficou parcialmente destruída: eletrodomésticos, móveis e outros utensílios foram queimados. Antes de se dirigirem a Água Preta, as mulheres haviam ocupado o engenho Pereira Grande, em Gameleira, a 99 quilômetros de Recife. Segundo um dos coordenadores do MST, Joba Alves, as manifestações protestavam contra a monocultura de cana no estado.

Ele disse que, em fevereiro, 66 famílias que moravam no engenho Cachoeira Dantas, onde cultivavam lavouras de subsistência em pequenos sítios, foram despejadas pela Justiça, "sem que houvesse chance, sequer, dos camponeses apresentarem suas defesas".