Título: Lupi se licencia da presidência do PDT
Autor: Lima, Maria; Franco, Bernardo de Mello
Fonte: O Globo, 07/03/2008, O País, p. 10

Decisão foi tomada após reunião com novo presidente da Comissão de Ética.

BRASÍLIA. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, informou ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que decidiu se licenciar do cargo de presidente do PDT, temporariamente, e com isso seguir a determinação da Comissão de Ética Pública da Presidência da República. Em dezembro, o colegiado recomendou, em ofício enviado a Lula, que Lupi optasse por um dos dois cargos, por considerar incompatível o acúmulo das funções. Lupi resistia a tomar essa decisão, e quando o fez, ontem, a cercou de mistérios.

Apesar da pressão do Planalto desde a semana passada, a decisão de Lupi foi tomada após um encontro reservado ontem entre ele e o novo presidente da Comissão, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence e outro integrante do colegiado, o assessor político da CNBB padre Ernani Pinheiro. Sepúlveda deixou claro ao pedetista a incompatibilidade de ele ser ministro e presidente de partido e que não se tratava de uma recomendação, mas uma obrigatoriedade.

O ministro ainda apresentou uma série de documentos para se defender das acusações de favorecimento político ao PDT, por intermédio de convênios entre sua pasta e entidades ligadas ao partido. Alegou que estava sofrendo perseguição política. O próprio Lula já havia dito a Lupi que ele não deveria mais acumular os dois cargos.

Antes de viajar ao Piauí, ontem à noite, Lupi confirmou, em gravação para o "Jornal Nacional", da Rede Globo, a decisão de se afastar do comando do PDT. Muitos de seus colegas de partido se disseram surpresos, pois não tinham sido avisados com antecedência.

- Cheguei à decisão de que, vendo este momento de incompreensão, mesmo considerando que estou dentro da legalidade, garantido pelo Constituição brasileira, não quero criar um constrangimento maior ao presidente da República, de ele ter que fazer opção. Acho que isso me colocaria numa posição de pretensioso, e não sou pretensioso - disse Lupi. - Não tenho direito de causar constrangimento ao presidente Lula. Depois de pensar muito, sem ser pressionado por ninguém, decidi pedir a licença que anuncio aqui.

A decisão de Lupi surpreendeu deputados e até integrantes da executiva. No início da noite de ontem, procurados pelo GLOBO, todos afirmavam não saber da licença:

- Ele não me comunicou nada. Estive com ele às 9h e saí às 10h de Brasília. Só estou chegando agora (19h45m) em Florianópolis. Agora, estou estranhando essa informação porque estive com ele, e ele não me disse nada - disse o secretário-geral do PDT, Manoel Dias.

- Conversei com ele hoje e ele não me disse nada sobre ter encontrado com o Pertence - afirmou o líder do PDT na Câmara, Vieira da Cunha (RS)

Mesmo saindo do comando do partido, a avaliação no PDT é que a situação de Lupi no governo também se agravou. Alguns pedetistas propuseram, na reunião da executiva, anteontem, que a melhor solução seria a saída de Lupi do ministério.

Com a presidência vaga, começou uma disputa interna pelo comando do PDT. Pelo regimento, deve assumir interinamente o vice-presidente, deputado Vieira da Cunha (PDT-RS). Mas a bancada trabalha pela efetivação do secretário-geral Manoel Dias, alegando que Vieira da Cunha já é líder na Câmara.