Título: Paulinho ameaça agir como Igreja Universal
Autor: Lima, Maria; Franco, Bernardo de Mello
Fonte: O Globo, 07/03/2008, O País, p. 10

"Se querem fazer putaria, então vamos fazer putaria", disse o deputado e presidente da Força, em defesa de Lupi.

BRASÍLIA E BELO HORIZONTE. O deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, ameaçou iniciar uma onda de processos contra O GLOBO e a "Folha de S.Paulo" em todo o país, numa ação orquestrada como a usada pela Igreja Universal do Reino de Deus contra a "Folha" e o jornal "Extra". Incomodado com reportagens mostrando que o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, estaria beneficiando com convênios milionários ONGs ligadas ao PDT e à central sindical, Paulinho ameaçou:

- A idéia é reparar o dano que estão causando. Se os jornais vão insistir nas matérias, vou dizer com todas as letras: se querem fazer putaria, então vamos fazer putaria. Estão fazendo putaria, vamos responder com putaria - disse o deputado à rádio CBN.

Paulinho afirmou que, se as reportagens não cessarem, a orientação é que cada um dos milhares de dirigentes da central que se sentirem prejudicados entre com processos por danos morais contra os autores das reportagens sobre Lupi, ONGs e Força Sindical.

Mais tarde, em Belo Horizonte, Paulinho voltou a fazer ameaças:

- A partir da semana que vem, estaremos organizando ações parecidas com a que a Igreja Universal fez, só que não é pela Lei de Imprensa. Queremos entrar com ações por danos morais, porque essas matérias afetam a imagem da nossa central, e nossos dirigentes estão tendo que explicar o que não têm que se explicar. Quando a gente explica não sai, quando sai no jornal é pequeno. A gente pode até não ganhar, mas vamos entrar com as ações.

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a OAB e parlamentares condenaram a intenção de Paulinho de repetir a estratégia da Igreja Universal. Os dois casos serão denunciados segunda-feira pela Fenaj à Organização dos Estados Americanos (OEA), como exemplos de "assédio judicial" e tentativa de intimidar e cercear a liberdade de imprensa no Brasil.

A denúncia será feita pelo vice-presidente da Fenaj, Celso Schroëder, numa audiência sobre liberdade de imprensa no Brasil, realizada na OEA, em Washington. Da sessão, além do representante da Fenaj, participarão representantes do Itamaraty e outras autoridades.

- Nos preocupa essa onda de assédio judicial. O mesmo efeito que faz uma ação, fazem duas mil ações. Mas as duas mil é para intimidar e ameaçar os profissionais da imprensa. Nos preocupa essa onda. Depois da Igreja Universal, a Força Sindical, uma péssima rima. O contra-senso é que o Paulinho preside uma entidade que pretende representar trabalhadores e quer condenar trabalhadores da imprensa? Com isso ele está estimulando o assédio judicial - disse o presidente da Fenaj, Sérgio Murilo.

O presidente da OAB, Cezar Britto, disse que abrir ações simultâneas sobre o mesmo caso em diversos estados pode caracterizar litigância de má-fé.

- Recorrer ao Judiciário com o interesse de dificultar a defesa ou apenas incomodar a outra parte não é um princípio defensável - afirmou.

Britto disse ver semelhanças entre o anúncio do pedetista e a ofensiva recente da Universal e afirmou que o direito do cidadão de recorrer à Justiça não deve se sobrepor ao direito de liberdade de expressão, que beneficia toda a sociedade:

- A melhor forma de conjugar os direitos é não permitir que um abuse sobre o outro. O deputado e o PDT deveriam refletir melhor para não fazer moda dessa prática de intimidar a imprensa na Justiça.

Segundo o presidente da Força Sindical, as ações não serão com base na Lei de Imprensa, porque foi o PDT que entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para extinguir artigos da lei. E aproveitou para alfinetar o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), um dos maiores defensores da extinção total da lei, e que apareceu com o principal articulador do julgamento no Supremo.

- Não vamos fazer com base na Lei de Imprensa, porque foi o PDT quem derrotou parte dela no Supremo. Não foi o Miro, foram o PDT e o Lupi - disse.

COLABOROU Sueli Cotta