Título: Política ferve por trás dos turbantes
Autor: Queiroz, Silvio
Fonte: Correio Braziliense, 05/05/2009, Mundo, p. 22

Não é a primeira vez que a ¿diplomacia latino-americana¿ atravessa os planos domésticos de Mahmud Ahmadinejad, ou vice-versa. Em 2007, quando fez duas viagens rumorosas à região e estreitou relações com Hugo Chávez e outros desafetos do ¿satã¿ norte-americano ¿ Evo Morales, da Bolívia, Rafael Correa, do Equador, e Daniel Ortega, da Nicarágua, sem falar no regime cubano ¿, o presidente iraniano foi recebido de volta com críticas no Parlamento. Pior: os ataques vieram de setores conservadores, próximos ao líder religioso, Ali Khamenei, e eles surraram o desempenho do governo na área econômica.

Quem acompanha de longe o cenário político na república islâmica compra facilmente a imagem de um regime monolítico, à imagem do comunismo de modelo soviético, mas de perto a realidade é bem mais complexa. Embora a autoridade religiosa tenha o poder de vetar candidaturas, são recorrentes as surpresas nas eleições ¿ o próprio Ahmadinejad chegou à Presidência, em 2005, derrotando o respeitadíssimo ex-presidente Hashemi Rafsanjani. Em 1997, o reformista Mohammad Khatami humilhou nas urnas o candidato da ala conservadora, apoiado por Khamenei.

No último fim de semana, o aiatolá aproveitou uma fusão de ministérios proposta pelo presidente para, além de desautorizar a medida, distanciar-se das pretensões eleitorais de Ahmadinejad. Khamenei pode estar procurando desvincular-se de uma eventual derrota do candidato e descaracterizar o pleito de junho como um referendo, ainda que indireto, sobre sua própria liderança. (SQ)