Título: Os brasileiros que os idosos não vêem
Autor: Escóssia, Fernanda da; Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 09/03/2008, O País, p. 8

Apesar de 87% dizerem que ajudam, poucos o fazem.

Na pesquisa feita pelo Ibope/Nova SB, os brasileiros foram perguntados se, mesmo com pressa, parariam para ajudar um idoso em dificuldade a atravessar uma rua. A resposta de 87% foi sim. Os idosos, contudo, têm dificuldade para encontrar esta maioria esmagadora de bem-intencionados. Na prática, a vida deles é bem complicada nas ruas, seja pela falta de auxílio, seja pelas dificuldades impostas pela falta de estrutura.

Célia Caldas, vice-diretora da Universidade Aberta da Terceira Idade (Unati), um centro de pesquisas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) sobre idosos, diz que os relatos dos idosos são bem diferentes do que mostra a pesquisa. Segundo ela, há pessoas que cedem lugar e auxiliam os idosos quando necessário. Mas estes são minoria:

¿ Isso não é corriqueiro. Tanto não é que, quando vemos, nos chama a atenção e até aplaudimos, o que mostra que não é natural.

Célia chama a atenção para outro dado do levantamento, mostrando que os idosos são os que têm mais preconceito contra negros e homossexuais.

¿ Em geral, são estes mesmos idosos os que reclamam de preconceito contra eles.

Solange Martins, de 75 anos, vive com as dificuldades que a idade e a cidade impõem. No ano passado, ela teve uma queda em casa e fraturou a perna em vários lugares. A recuperação foi rápida, mas voltar às várias atividades que tem todos os dias, dar aulas, participar de grupo de teatro, escrever, pintar foi mais difícil do que imaginava:

¿ Não dava para sair na rua sozinha. Tive que contar sempre com o meu marido, porque era difícil encontrar ajuda na rua.

A aposentada, que durante anos vendeu carros, lembra que a cidade é, em si, um obstáculo aos idosos. Os buracos e, principalmente, as pedras portuguesas, são os maiores inimigos:

¿ Não sei como estas pedras ainda existem. Elas soltam quando está quente e escorregam quando chove.

Mas a maior falta de respeito, segundo ela, é dos ciclistas e motociclistas. Silvana conta que eles passam próximos e em alta velocidade, além de não respeitarem a sinalização.

¿ Os ciclistas andam na contramão, como se não tivessem que respeitar as leis. Já as motos passam o sinal vermelho como se não existisse.