Título: O batismo de fogo do PAC
Autor: Mendes, Taís
Fonte: O Globo, 11/03/2008, Rio, p. 10

PM morre com tiro de fuzil e explosão de granada em confronto com traficantes na Rocinha

Oprimeiro dia do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na Rocinha, onde o presidente Lula esteve na última sexta-feira, foi marcado ontem por um intenso tiroteio entre traficantes e policiais. Um sargento da PM morreu após ser atingido por um tiro de fuzil e, num tipo de ataque cada vez mais comum, pela explosão de uma granada. No confronto, um rojão lançado por bandidos atingiu uma casa, que pegou fogo. Vários disparos perfuraram as paredes do imóvel, que estava vazio na hora. A Secretaria estadual de Obras informou que o confronto não interferiu no início das obras do PAC na favela. No dia do lançamento do programa, Lula disse, referindo-se aos moradores das comunidades beneficiadas, que "é preciso acabar com a imagem de que tudo é bandido e não presta".

De acordo com o comandante do 23º BPM (Leblon), coronel Carlos Millan, o tiroteio começou quando policiais foram checar uma denúncia anônima de que um grupo armado estaria na localidade conhecida como 199, no alto da favela. Os PMs foram recebidos a tiros, ficaram encurralados e o sargento João Luiz Nunes Rafero, de 41 anos, foi atingido. Com a chegada de reforço e a fuga dos traficantes, o policial foi levado para o Hospital Miguel Couto, no Leblon, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.

Segundo a polícia, o tiro de fuzil atingiu o abdômen do sargento e a granada dilacerou a perna. Há 17 anos na PM, o policial era motorista da supervisão do 23º BPM e deixaria o plantão uma hora após ser atingido. Ele e mais 14 PMs subiram a favela por volta das 7h. Próximo ao local, na Rua Sedro, há uma equipe permanente de policiais, segundo Millan.

- Ao receber a denúncia, determinei que a inteligência a verificasse, houve a troca de tiros e, infelizmente, um policial foi atingido. Esse, inclusive, é o grupo que apreendeu um arsenal no alto da mesma favela, no mês passado. O sargento era um excelente policial e deixa quatro filhos menores. Estou muito chateado - lamentou.

"Não vamos abaixar a cabeça", diz oficial

Quatro pessoas moravam na casa incendiada após ser atingida por um rojão. Apenas um quarto escapou das chamas. Um helicóptero da polícia sobrevoou a parte alta da favela na hora, mas também foi recebido a tiros e foi embora. Após a fuga dos traficantes, policiais apreenderam uma granada M9, uma bomba de fabricação artesanal, uma carabina 30, 135 papelotes de cocaína e 190 trouxinhas de maconha.

O chefe do 1º Comando de Área da Capital, coronel Marcus Jardim, afirmou que a operação foi autorizada por ele:

- Não vamos abaixar a cabeça. Nossa vontade é que o PAC se realize pacificamente, mas vamos continuar patrulhando ostensivamente a área para que os trabalhadores e a comunidade tenham segurança.

Segundo o oficial, a área do conflito fica distante do local das obras do PAC, mas ele afirmou que não seria diferente se o problema ocorresse próximo do lugar onde estão sendo feitos os trabalhos:

- Se nada tivéssemos feito diante da denúncia, estaríamos prevaricando.

Após o confronto, moradores da Rocinha comentaram que, há cerca de 15 dias, numa reunião no 23º BPM, decidiu-se que as operações policiais na comunidade seriam avisadas com antecedência. O coronel Millan negou o encontro.

- Nem sei quem é o presidente da associação de moradores. A toda hora, quando a polícia for necessária, estaremos presentes e vamos fazer com que a lei seja cumprida.

O encontro também não foi confirmado por Jardim. Ele disse que não haverá ocupação durante as obras, mas operações sempre que houver denúncias:

- Não há possibilidade de avisar com antecedência sobre operações. A polícia não trabalha dessa maneira, mas com fatos e o fator surpresa.