Título: Em SP, consulado espanhol tem parede pichada
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 09/03/2008, O País, p. 16

Jogadora de vôlei mineira foi detida em Madri em setembro.

SÃO PAULO e BELO HORIZONTE. A parede do prédio onde fica o Consulado-Geral da Espanha em São Paulo, no Paraíso, Zona Sul, amanheceu pichada ontem, com a frase ¿Lula faça algo. Mais respeito com os brasileiros¿. Não havia ninguém no consulado durante a madrugada quando a inscrição foi feita, numa manifestação contra o governo espanhol, que tem barrado a entrada de brasileiros naquele país.

A detenção de brasileiros no Aeroporto de Madri já acontecia pelo menos desde setembro de 2007. A atleta mineira Ticiana Rocha, 27 anos, que mora hoje em Vassouras, no estado do Rio, viajou para Madri, na época a convite de um clube de vôlei espanhol, mas não passou do aeroporto. Foi detida, humilhada, ficou sem objetos pessoais e acabou repatriada, após 24 horas de sofrimento. Na volta, contou que mais de cem pessoas, dentre elas pelo menos 30 brasileiros, estavam detidas em uma sala. Ela disse que ficou surpresa com o rumo que a crise tomou após sua denúncia.

¿ Eu não imaginava nunca, porque a gente esperava que, depois de uma vez que aconteceu, as coisas fossem melhorar, e pelo jeito só piorou, é assustador. Foi denunciado, foi mostrado e nada aconteceu até agora ¿ afirmou.

Atleta ainda reclama por pedido de desculpas

Segundo Ticiana, seis meses depois, mesmo portando toda a documentação legal e com passagem e estadia pagas pelo clube espanhol pelo qual seria contratada, ela nunca recebeu qualquer notificação oficial ou pedido de desculpas:

¿ Até hoje, foi como se nada tivesse acontecido na ocasião, passou desapercebido. Nunca recebi nada, nem do governo da Espanha, nem do governo brasileiro.

Ela diz que até hoje se sente mal ao pensar no que houve:

¿ Eles gritavam e xingavam a gente o tempo todo. Exigiam que a gente mantivesse a sala limpa, com mais de cem pessoas; que arrumasse tudo em cinco minutos. Na época, não deixavam a gente sair da sala nem para usar a máquina de refrigerantes. Em determinado momento, meu marido me ligou no telefone público do lado de fora e não me deixaram atender. Minha cabeça ficou muito ruim com o que aconteceu. Estava indo legalmente fazer uma coisa saudável, jogar vôlei, e fui tratada daquela forma.

A brasileira disse que não concorda com retaliações feitas pelo governo brasileiro, mas defende que lei seja realmente cumprida:

¿ O direito de ir e vir todo mundo tem, sendo legal. Não concordo com retaliação, prejudicar por nada espanhóis que vierem para cá. Já quem está ilegal deve ser mesmo repatriado.