Título: Ex-diretor do Senado pede aposentadoria
Autor: Colon, Leandro; Rocha, Marcelo
Fonte: Correio Braziliense, 01/05/2009, Política, p. 2

Numa manobra para evitar a demissão do serviço público por usar ex-babá como laranja e ocultar empresa, João Carlos Zoghbi tenta sair de cena e garantir rendimentos integrais como servidor da Casa

Sarney: presidente do Senado decide suspender operações do Banco Cruzeiro do Sul, que, até 2004, foi o único a oferecer empréstimos consignados a servidores O ex-diretor de Recursos Humanos do Senado João Carlos Zoghbi protocolou às 18h de ontem, na Diretoria-Geral, um pedido de aposentadoria. A iniciativa faz parte de uma manobra para tentar evitar a demissão do serviço público após as denúncias de ter feito uso irregular de um apartamento funcional e de ter colocado a ex-babá como laranja para ocultar ligação com empresa que atuava na intermediação de empréstimos consignados oferecidos por bancos para servidores da Casa.

A área jurídica do Senado vai avaliar se a aposentadoria será concedida, evitando a eventual punição. Zoghbi tomou a decisão após consultar alguns senadores, incluindo Edison Lobão (PMDB-MA), licenciado desde o ano passado para comandar o Ministério de Minas e Energia.

Zoghbi é alvo de duas sindicâncias internas e de um inquérito da Polícia Legislativa ¿ medidas anunciadas ao longo da semana pelo presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), preocupado em estancar nova onda de denúncias na Casa. Nos bastidores, os técnicos do Senado avaliam que dificilmente o ex-diretor escapa de ser banido. Por isso, o pedido de aposentadoria antecipada busca abrandar eventual punição dos colegas. Na Primeira Secretaria, no entanto, a ordem é tocar em frente as apurações. Zoghbi tem mais de 30 anos de Casa, 15 dos quais à frente da Diretoria de Recursos Humanos, responsável por uma folha de pagamento de R$ 3 bilhões anuais.

Irregularidades Além das investigações internas, Zoghbi terá de prestar contas ao Ministério Público. A Procuradoria da República em Brasília trabalha em duas frentes para apurar as supostas irregularidades cometidas por ele. Numa ponta, o MPF analisa o caso do apartamento funcional cedido pelo ex-diretor a um filho. A revelação desse episódio, pelo Correio, derrubou o ex-diretor. Na outra investigação, o MP rastreará a Contact Assessoria de Crédito, empresa que tem como sócia majoritária a ex-babá de Zoghbi, Maria Izabel Gomes, uma senhora de 83 anos. Izabel mora com a família Zoghbi no Lago Sul.

Criada em 2006, a Contact faturou alto negociando contratos entre instituições financeiras e o Senado para oferecer crédito consignado aos servidores parcelados em até 99 parcelas. A última edição da revista Época trouxe detalhes sobre as transações realizadas entre o Banco Cruzeiro do Sul e o Senado, intermediadas pela empresa de assessoria. Zoghbi cuidava pessoalmente de algumas operações. De acordo com a reportagem, a empresa recebeu cerca de R$ 2,3 milhões do banco. A Contact é a maior correspondente bancária de empréstimos consignados que atua na Casa.

Sócios formais Zoghbi admitiu que a Contact, na verdade, pertence a dois filhos, embora eles não apareçam como sócios formais. Justificou a manobra sob o argumento de que servidores públicos não podem ser donos de empresas que negociam com a administração pública e, daí, a decisão de registrar a Contact no nome de Maria Izabel. Na edição de ontem, o Correio mostrou que Bianka Machado e Dias, outra pessoa no sociedade, deu a terceiros poderes para movimentar os dinheiro da empresa em contas bancárias mantidas no Bradesco e no Unibanco. A prerrogativa inclui a remessa de dinheiro para o exterior.

Desde o ano passado, Zoghbi tem sido obrigado a dar satisfações aos senadores e a colegas sobre uma série de irregularidades. Em outubro, descobriu-se que o ex-diretor empregava no Senado uma nora e dois filhos, que foram exonerados após decisão judicial que proíbe a contratação de parentes. Em março, surgiu o caso do apartamento funcional do Senado destinado, oficialmente, para ele morar desde 1999. Enquanto isso, continuou vivendo numa mansão. No início do mês, foi revelado que a Câmara pagou pelo menos 42 passagens para o servidor e sua família viajarem, sendo 10 ao exterior. Em março do ano passado, por exemplo, ele e sua mulher, Denise, foram a Madri com as cotas dos deputados.