Título: Consumo acima de R$100 bilhões
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 09/03/2008, Economia, p. 35

Empresas começam a explorar potencial de compra da população GLS.

Uma população estimada em 18 milhões de pessoas no país, com a metade dela em condições de consumir. Segundo a Associação Brasileira de Turismo GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), o potencial de consumo dessa população ultrapassa R$100 bilhões anuais. E, de olho nesse mercado, as empresas começam a se especializar em atender esse público:

¿ Essa população, normalmente, tem mais dinheiro para gastar. Não tem filhos, mora nas grandes metrópoles, onde os salários são mais altos ¿ explica Franco Reinaudo, presidente da Abrat-GLS.

Segundo Jeanine Pires, presidente da Embratur, esse público tem mais sede de cultura, de informações da cidade e de vida noturna.

Na busca do atendimento menos preconceituoso e sem clichês, a associação firmou convênio com a Embratur para capacitar profissionais em três cidades consideradas amigáveis para esse grupo: Rio, Florianópolis e Salvador.

¿ Uma pesquisa feita pela Abrat e pela Universidade Paulista mostrou que o fator de decisão está primeiro no atendimento, depois na qualidade do hotel e, por último, no preço ¿ disse Reinaudo.

A capacitação passa por destruir clichês e preconceitos dos atendentes. Um exemplo foi citado por Reinaudo. Dois lutadores de jiu-jítsu pediram cama de casal na reserva.

¿ O funcionário estranhou e veio me consultar. Ou seja, ainda permanece na cabeça das pessoas que os gays precisam ser afeminados. E não é assim.

Mas não é só o turismo que busca ganhar dinheiro com essa população. A construtora Tecnisa teve 12% de suas vendas ancoradas na população de gays e lésbicas. Ou seja, R$60 milhões dos R$500 milhões do faturamento anual da empresa em 2006.

¿ Em 2005, assumimos, numa campanha de marketing, sermos uma empresa amigável aos gays. Investimos em anúncios institucionais para essa comunidade, principalmente na internet ¿ explicou Romeo Busarello, diretor de Marketing da construtora.

Um público que faz mudanças mais radicais no apartamento, optando por banheiras de hidromassagem e cozinha americana. O tamanho varia entre 76 e 160 metros quadrados:

¿ Não têm filhos, gostam de receber e mudam bastante o projeto original.

Previdência e crédito dirigidos

O setor de Previdência do HSBC também resolveu apostar nesse público. Desde novembro de 2006, o sistema de informática da seguradora passou a não registrar erro quando o parceiro era do mesmo sexo. Tanto na previdência privada como no seguro é possível nomear parceiros do mesmo sexo como beneficiários.

¿ Não é um produto especial. Damos ao tema um tratamento natural. Temos as mesmas exigências para liquidação do seguro de casais heterossexuais e para os do mesmo sexo ¿ explica Renato Terzi, diretor de produtos de Varejo do HSBC.

No Santander, desde 2005, a exigência de união estável não faz mais parte das regras para concessão de financiamento habitacional. Assim, os casais homossexuais podem compor a renda familiar e ter a escritura no nome do casal. A idéia, segundo o banco, é simplificar o acesso à casa própria.