Título: Plano de governar sem oposição
Autor: Moreno, Javier
Fonte: O Globo, 09/03/2008, O Mundo, p. 39

O senhor sabe com quem vai governar?

JOSÉ LUIZ RODRÍGUEZ ZAPATERO: Com o apoio do meu partido.

Apenas?

ZAPATERO: Este é meu objetivo.

Para isso precisaria de uma maioria mais ampla do que a que tem hoje...

ZAPATERO:Uma maioria suficiente também depende da atitude de outros grupos. Há uma maioria de espanhóis que quer que esse projeto (de governo) siga, e essa maioria deve decidir. Para escolher entre PSOE e PP é preciso votar no que se quer, e essa maioria tem que traduzir seus desejos em votos.

As pesquisas não dão ao senhor maioria absoluta...

ZAPATERO: Não. As pesquisas marcam uma eleição competitiva.

Quantos imigrantes ilegais há na Espanha?

ZAPATERO: Cerca de 250 mil.

O que pensa em fazer com eles?

ZAPATERO: Na medida do possível, repatriá-los. Quando temos um imigrante ilegal, o repatriamos.

Voltará a negociar com o ETA?

ZAPATERO: Não há qualquer possibilidade.

Sobre a economia. Os dados sobre desemprego em fevereiro são péssimos.

ZAPATERO: Discordo. E mais, hoje tenho dados bons sobre a economia espanhola. Houve um número muito elevado de contratos (de trabalho) fixos. Se tivéssemos um clima econômico alarmante, os empresários não continuariam contratando. Ainda menos contratos fixos.

Há quatro anos o senhor prometeu uma lei sobre o aborto. Não cumpriu.

ZAPATERO: Eu não prometi nada. Isso não saiu da minha boca.

Está em seu programa. Página 100 do Programa Eleitoral do PSOE de 2004: ¿Reformaremos a legislação sobre o direito à interrupção voluntária da gravidez para adotar um sistema de prazos¿.

ZAPATERO: Nunca se escutou isso em meu discurso.

Não em seu discurso de posse, mas estava no programa. O senhor não considera que seu programa eleitoral seja um compromisso com os cidadãos?

ZAPATERO: Sim, mas vamos ver. Há um matiz importante. E seria o discurso de posse. O discurso de posse é diante da soberania, diante do Parlamento. E, evidentemente, se atém ao fundamental do programa eleitoral. Creio que esta é a legislatura em que um partido mais cumpriu seu programa eleitoral.

Os bispos acabam de eleger presidente da Conferência Episcopal o cardeal Rouco Varela, um dos instigadores das manifestações contra seu governo nas ruas. É um mau augúrio para os próximos quatro anos?

ZAPATERO: Não vamos antecipar o que acontecerá. Até agora fez declarações corretas em seu primeiro dia, e há que dar tempo ao tempo.

O senhor disse em 2004 que a Espanha estava voltando ao coração da Europa. Agora, Brown (Gordon Brown, premier britânico) e Sarkozy (Nicolas Sarkozy, presidente francês) organizam reuniões-chave, como sobre a economia, e não o convocam.

ZAPATERO: Essa é uma pergunta que me espanta, porque essa foi uma reunião dos países do G-7. Obviamente, a Espanha não estava presente. Se estivesse, os demais países teriam dito: ¿por que a Espanha está aqui?¿ Isso não tem sentido. Mas tanto voltamos ao coração da Europa que um espanhol e socialista foi eleito, por unanimidade, encarregado de delinear os grandes objetivos da UE para os próximos 20 anos. Isso só é possível porque nosso país é europeísta. O governo tem bons amigos na União Européia (UE), e se, além disso, contamos com uma pessoa com prestígio como Felipe González...

Se o senhor vencer as eleições, pedirá de imediato uma reunião com o novo presidente dos EUA?

ZAPATERO: O natural é que isso ocorra, não sei se imediatamente, mas vai ocorrer.

Quando o senhor falou pela última vez com Fidel Castro?

ZAPATERO: Nunca falei em toda minha vida com Fidel Castro.

Não?

ZAPATERO: Não. Esses são os paradoxos que vive um homem, não?