Título: Câmara mantém imposto sindical obrigatório
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 12/03/2008, O País, p. 5

Pressão do governo e lobby de sindicalistas vencem e trabalhador continuará a descontar um dia de salário por ano.

BRASÍLIA. O forte lobby comandando pelo governo federal e pelos sindicalistas falou mais alto e a Câmara aprovou ontem à noite - por 234 votos a favor, 171 contra e seis abstenções - a manutenção da contribuição sindical obrigatória para todos os trabalhadores assalariados, sindicalizados ou não. Em outubro do ano passado, na votação do projeto de lei que regulamenta as centrais sindicais, o fim da cobrança compulsória do imposto na folha de pagamento chegou a ser aprovado na Câmara, por 215 votos, com uma emenda do deputado Augusto Carvalho (PPS-DF).

No entanto, em dezembro, o Senado mudou o texto da Câmara e manteve a cobrança compulsória. O lobby que levou ao recuo dos deputados, na nova votação de ontem, teve entre seus principais comandantes o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, presidente da Força Sindical. Após a votação, os sindicalistas foram comemorar a vitória com um churrasco numa mansão do Lago Sul.

Com a aprovação do texto do Senado, além do trabalhador ter descontado neste mês de março o correspondente a um dia de seu salário, as centrais passam a ter direito a abocanhar 10% da parcela de 20% repassados atualmente ao Ministério do Trabalho. O total de recursos é de R$1,3 bilhão por ano. Das galerias, trabalhadores e representantes de sindicatos comemoraram com gritos, aplausos e muitas bandeiras.

Obstrução da oposição atrasa a votação

O acordo para o fim da obstrução de DEM e PSDB só aconteceu tarde da noite, após longas e calorosas discussões no plenário da Câmara.

- Não querem que o trabalhador tenha o direito de optar por autorizar ou não o desconto. Querem, na mão grande, tirar o dinheiro do trabalhador para financiar as mordomias dos pelegos que aqui estão - discursou o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), a favor do fim da contribuição.

- Isso apenas complicaria a vida do trabalhador, que teria de pagar do mesmo jeito - respondeu Vicentinho (PT-SP).

A cúpula do movimento sindical, acampada no Congresso desde a véspera, já programava a comemoração desde a manhã de ontem, quando foi surpreendida pela obstrução de DEM e PSDB, na Câmara.

Além de não concordar integralmente com o texto aprovado no Senado - que derrubou a Emenda 3, de autoria de Augusto Carvalho -, os líderes da oposição acirraram a obstrução para protestar contra declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o Congresso não quer trabalhar. DEM e PSDB não fecharam questão contra a manutenção da cobrança obrigatória.

O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que mais cedo se reuniu com os sindicalistas e o deputado Paulo Pereira da Silva, tentou impor a votação da matéria, sem sucesso. Mas a oposição bateu o pé ao longo do dia.

- Estou defendendo os trabalhadores. Não tenho a simpatia das centrais. Com o fim da compulsoriedade da cobrança, as centrais terão que entrar na Justiça para receber o imposto, e só aí vão se mexer para o governo mandar o outro projeto que acaba gradativamente com a contribuição - disse o líder do DEM, Antonio Carlos Magalhães Neto (BA).

O lobby também do governo foi comprovado com a presença do secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho, o ex-presidente da Força Sindical Luiz Antonio Medeiros.

- Não estou aqui em nome do governo. Vim aqui em meu nome para ajudar - disse Medeiros.