Título: CPI do Cartão começa com 149 requerimentos
Autor: Vasconcelos, Adriana; Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 12/03/2008, O País, p. 8

Oposição e governo se enfrentam para decidir quem vai depor na comissão que investiga os cartões corporativos.

BRASÍLIA. Aberta em clima de descrédito, a CPI do Cartão Corporativo vive hoje um dia decisivo para definir se vai ou não investigar a fundo as denúncias de irregularidades em gastos da administração federal. Em sessão marcada para as 9h, oposição e governo se enfrentam na primeira batalha de votação de requerimentos - 149 apresentados apenas ontem - para a convocação de autoridades. Em minoria, parlamentares do PSDB e do DEM decidiram centrar fogo nas despesas da Presidência da República. Tentarão ouvir a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Jorge Félix, além de seguranças e ecônomos responsáveis pelas compras no Palácio do Planalto.

Governistas ameaçam convocar Pedro Parente

Os governistas, em contrapartida, ameaçam convocar integrantes do governo Fernando Henrique Cardoso, como Pedro Parente, ex-chefe da Casa Civil , para apurar o uso de contas do tipo B, que vêm sendo substituídas pelos cartões corporativos desde 2003.

- Não há como ignorar o pessimismo da sociedade quanto a essa CPI. Se esses requerimentos (da oposição) forem rejeitados, não teremos muito a fazer - advertiu ontem o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

O relator designado pelo governo, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), já admite a convocação dos ministros envolvidos diretamente no escândalo: Orlando Silva, do Esporte, e Altemir Gregolin, da Secretaria da Pesca. Ele também assinou pedido para ouvir a ex-ministra da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial Matilde Ribeiro, afastada depois das evidências de uso indevido do cartão. Ela é alvo de outros cinco requerimentos.

Luiz Sérgio conseguiu aprovar de forma unânime seu plano de trabalho: os depoimentos mais esperados só devem acontecer em abril e, nos primeiros 20 dias, apenas cinco pessoas serão ouvidas: o chefe da Controladoria Geral da União, ministro Jorge Hage; o presidente do Tribunal de Contas da União, Walton Rodrigues, e um representante do Ministério Público no tribunal; o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo; e o ex-ministro Paulo Paiva, que ocupou a pasta no governo FH.

O relator negou um acordo com o PSDB para poupar os gastos pessoais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso.

- Como relator, não posso trabalhar para proteger ou perseguir ninguém - afirmou o relator.

A senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), eleita presidente da comissão, também prometeu isenção no comando:

- A CPI não pode ser instrumento de embate entre oposição e governo - disse.

Mas a desconfiança permanece. Os parlamentares do DEM consideraram excessivo o clima de cordialidade entre petistas e tucanos. O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) foi um dos poucos que protestaram contra o cronograma apresentado.

- Eu estou pronto para investigar tudo. O PSDB deu mostras hoje de que concorda. Vamos ver se vai até o fim - disse Demóstenes.

Dos 149 requerimentos protocolados ontem, 39 foram apresentados pelos deputados democratas Vic Pires Franco (PA) e Índio da Costa (RJ). Demóstenes argumentou que os cinco primeiros depoimentos propostos por Luiz Sérgio poderiam ser tomados em apenas um dia.

Demóstenes Torres protagonizou também o único momento de tensão na sessão de ontem, quando bateu boca com o deputado Silvio Costa (PMN-PE). O governista o criticou por ter supostamente defendido a convocação de Lurian Cordeiro da Silva, filha do presidente Lula, para explicar gastos de seus seguranças em Florianópolis.

A extensa lista de convocações tem curiosidades, como um requerimento de Vic Pires e Índio da Costa para ouvir o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, até então afastado do escândalo. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) quer a presença da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Ellen Gracie, e do secretário de Fazenda de São Paulo, Mauro Ricardo Machado Costa, para dividir os holofotes da crise com os tucanos, alvo de denúncias sobre o uso indevido de cartões no governo paulista.

O deputado Maurício Quintella (PR-AL) foi além: propôs convocar o governador José Serra (PSDB), embora a CPI tenha sido aberta para investigar gastos da União.