Título: Leader nas mãos da Renner
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 12/03/2008, Economia, p. 21
Negócio criará a segunda maior empresa do setor, com R$2,4 bi de faturamento.
As Lojas Renner, do Rio Grande do Sul, acertaram a compra da Leader, tradicional grupo familiar fluminense, e serão a segunda maior rede de lojas de departamentos de vestuário do país, com faturamento anual de quase R$2,4 bilhões. O negócio, que começou a ser discutido há cinco meses e deve ser concluído em 120 dias, não teve o valor divulgado, mas, segundo analistas, sairá por mais de R$500 milhões. As 38 lojas da Leader no Sudeste e no Nordeste farão com que a Renner aumente em 40% o número de unidades, hoje de 95. As duas marcas e a gestão continuarão independentes.
Com a compra, a Renner ¿ que foi criada por Antônio Jacob Renner em 1912, passou às mãos da americana JCPenney em 1998 e desde 2005 tem capital pulverizado na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), sem a figura de um controlador ¿ ficará atrás apenas da arqui-rival C&A, de origem holandesa. Especialistas dizem que operação deve desencadear uma reação dos concorrentes, que vão acelerar a expansão, com a abertura de lojas ou com aquisições. O setor ainda é muito fragmentado, já que as cinco maiores empresas respondem por menos de 10% do faturamento do mercado de varejo têxtil, de R$65 bilhões por ano. Em eletroeletrônicos, as cinco maiores redes concentram quase metade das vendas do país, ressalta estudo da consultoria Gouvêa de Souza.
No pacote, a Renner vai adquirir também os 50% que a Leader tem em uma operação de cartões de crédito ¿ a outra metade é do Bradesco. São 3,5 milhões de clientes. Juntas, Renner e Leader terão 15,5 milhões de cartões, contra 18 milhões da C&A.
Renner ficará com 41 lojas no Rio
Com a Leader, a Renner terá uma adição de 27% nas vendas. O faturamento, de R$1,7 bilhão em 2007, passará a R$2,397 bilhões, com os R$697 milhões da Leader, fundada em 1952 pela família Gouvêa e que já se chamou Leader Magazine, mas perdeu o segundo nome em 2005. Segundo a Itaú Corretora, o grupo ficará atrás dos R$3 bilhões da C&A, mas à frente do R$1,8 bilhão da Riachuelo (que pertence à Guararapes Confecções, com sede em Natal). O presidente da Renner, José Galló, disse que as empresas são complementares, pois atendem públicos diferentes, e não descarta aquisições:
¿ A Leader atende as classes B- e C. A Renner, classes A-, B e C. Essa é a riqueza do negócio. Vamos acabar essa operação e depois pensar no futuro. Porém, vamos continuar construindo lojas. Mesmo em shoppings onde há as duas redes, não haverá mudanças.
Apesar de a marca Leader não desaparecer, há espaço para sinergias. Grifes da Renner poderão ser vendidas na Leader e vice-versa. Para Juliana Rozenbaum, analista do Unibanco, a Renner ganha forte presença no Rio e ainda terá mais conhecimento com a venda de itens de casamento e de casa, além de uma fábrica própria de roupas. O interesse da Renner foi divulgado ontem pelo colunista Ancelmo Gois.
¿ O preço pago pela Renner não deve ser alto. O mercado tem espaço para se consolidar. Pode haver reação das Pernambucanas e da Riachuelo ¿ diz Juliana.
As ações da Renner fecharam em forte alta na Bovespa, com a notícia do negócio. Os papéis ordinários (ON, com direito a voto) subiram 7,71%, para R$34,05. Segundo a analista Luciana Leocádio, da corretora Ativa, a notícia é positiva porque o número de lojas da Renner será 40% maior. Para Ricardo Fernandez, analista da Itaú Corretora, ainda falta muito para o setor se consolidar, já que é formado por um grande número de empresas:
¿ Achar empresas grandes como a Leader não é fácil. Por isso, os próximos negócios serão menores. Com o negócio, a Renner ganha uma posição de destaque no Rio e fica com 41 lojas no estado. Dessa forma, a empresa ganha rapidez, escala e sinergia.
Na opinião de Ulysses Reis, coordenador do MBA de Varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV), a consolidação é essencial, pois os hipermercados estão invadindo o segmento têxtil, além de oferecer crédito com força cada vez maior:
¿ As redes de departamentos crescem hoje em uma média acima do varejo em geral. Desde 1994, são dois pontos percentuais acima da média. Nos shopping centers, elas se tornaram âncoras e passaram a responder por até 30% dos gastos dos consumidores.
Luiz Antônio Valente, superintendente do Shopping Tijuca, endossa a avaliação de Reis. O empreendimento, ao se expandir há dois anos, inaugurou lojas de Renner, Leader e C&A a pedido dos próprios clientes:
¿ É importante ter lojas com serviços financeiros e um mix variado de produtos. No Tijuca, elas respondem por até 30% do fluxo de 1,3 milhão de clientes que vêm ao shopping mensalmente ¿ afirma Valente.
Para Eduardo Novaes, superintende do Multiplan, dono do BarraShopping, as âncoras respondem por até 50% da superfície do shopping:
¿ É um canal importante, pois as redes têm expressão nacional e são grandes anunciantes, o que atrai a atenção do público no shopping.
COLABOROU Juliana Rangel