Título: Tarifas da Ampla vão ficar 10,88% mais caras
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 12/03/2008, Economia, p. 24

Estiagem e interrupção no fornecimento de gás por parte da Argentina foram as principais causas do reajuste.

BRASÍLIA. No próximo sábado, a conta de luz de 2,2 milhões de consumidores da Ampla espalhados por 66 municípios do Estado do Rio vai ficar mais cara. O conselho diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou ontem o reajuste anual da tarifa, que subirá 10,88% no caso das residências e 12,14% para os clientes industriais.

As principais razões para o aumento, o maior dos últimos seis meses entre as grandes distribuidoras, são a crise energética da Argentina e a explosão dos preços da energia no mercado livre brasileiro em decorrência da estiagem no início de 2008. Juntos, estes fatores representaram mais da metade do reajuste.

Distribuidora gastou R$78,740 milhões a mais

A Ampla mantinha um contrato de fornecimento de 284 megawatts médios (MWm) com a Companhia de Interconexão Energética (Cien), da Argentina. Mas, com os problemas de abastecimento no país vizinho, a empresa cancelou em dezembro a entrega de gás natural.

A distribuidora fluminense conseguiu comprar 100 MWm de outros fornecedores, mas teve de buscar os demais 184 MWm no mercado de curto prazo, onde a energia é mais cara e atingiu seu pico dos últimos anos em janeiro e fevereiro. Isso deveu-se à seca ocorrida em janeiro, que baixou o nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas e fez com que fosse desviado gás natural para as termelétricas.

Segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), em janeiro o preço médio chegou a R$502,45 o megawatt/hora (MW/h) no subsistema Sudeste/Centro-Oeste, baixando para R$200,42 em fevereiro. Em janeiro de 2007 o preço médio era R$22,62 o MWh e em fevereiro daquele ano, R$17,59.

Por causa disso, a estimativa é que, nos meses de janeiro e fevereiro, a distribuidora brasileira tenha desembolsado R$78,740 milhões mais do que se a Cien tivesse mantido o contrato.

- Só para fins de comparação, se o contrato da Cien ainda vigorasse, o reajuste tarifário médio da Ampla seria de 4,19% - disse Romeu Donizete Rufino, diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica e relator do caso.

No ano passado, a conta de luz das residências caiu 5%

Para o cliente, especialmente o residencial, será um susto após dois anos de alívio no bolso. No ano passado, a conta de luz dos lares caiu 5%, e a dos consumidores industriais, 1,77%. Em 2006, apenas os primeiros (90% dos clientes da Ampla) tiveram redução, de 4,05%. As empresas amargaram elevação de 6,23%. A concessionária, com sede em Niterói, tem receita de cerca de R$2,5 bilhões.

O diretor de Relações Institucionais da Ampla, André Moragas, disse que a distribuidora foi a primeira que sofreu impacto da escassez de recursos e que, do reajuste de 10,88%, 6,5 pontos percentuais corresponderam à compra de energia no mercado de curto prazo.

- Temos ainda um déficit de energia. A única alternativa é ir ao leilão para comprar - disse Moragas.