Título: Porta de entrada de refugiados
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 12/03/2008, O Mundo, p. 29
Tabatinga atrai colombianos.
BRASÍLIA. É raro o dia em que a pobre cidade de Tabatinga, no Amazonas, não recebe uma família em fuga. Pela fronteira seca do Brasil com a Colômbia chegou nos últimos anos a maioria dos 17 mil colombianos, que, estima-se, vivam espalhados no país. Deixaram suas cidades muitas vezes com a roupa do corpo. Estavam marcados para morrer ou fugiram para impedir que crianças, a partir de 10 anos, fossem recrutadas para atuar como soldados. São vítimas não só das Farc, mas de outras guerrilhas e de grupo paramilitares.
Uma equipe do GLOBO passou uma semana em Tabatinga, em dezembro de 2006. Ali, localizou pelo menos dez famílias na chegada a Tabatinga ou ainda em solo colombiano, em Letícia, capital do departamento colombiano do Amazonas. Outras tantas haviam chegado no mesmo período em Manaus. Seus relatos, contados em uma série de reportagens, compõem um retrato chocante do refúgio: dos horrores de uma guerra que o Brasil pouco conhece à solidão e à miséria no exílio.
A chegada dos colombianos à Amazônia brasileira coincide com a mão-forte do governo colombiano, cujo combate à narcoguerrilha a empurra cada vez mais para a fronteira. Mas o Brasil, antes preterido pela barreira da língua, tem atraído os refugiados por duas outras razões: o crescimento da economia - que está longe de significar vida fácil na busca por empregos - e a estabilidade política.
No Equador e (principalmente) na Venezuela, os refugiados colombianos temem que as guerrilhas os localizem, já que elas mantêm relações com esses países. Mas, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), que acompanha de perto a chegada dos colombianos ao país, a temperatura em ebulição das últimas semanas não gerou qualquer impacto no fluxo dos refugiados.
Eles chegam a Letícia de barco ou em aviões cargueiros que saem de Bogotá. Embora seja área não controlada pela guerrilha, a região próxima a Tabatinga ainda oferece perigo e não tem empregos. A saída, em geral, é seguir viagem até Manaus, onde começa um novo drama.
A escassez de empregos, aliada ao preconceito, quase sempre joga os colombianos para o fim da fila. O resultado quase sempre é o subemprego. Há casos em que, presas fáceis, refugiados são seduzidos por propostas para transportar drogas pelos rios da Amazônia e acabam presos. Triste fim para quem deixou o seu país para fugir da guerra bancada por cocaína.