Título: Segurança reforçada
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 12/03/2008, O Mundo, p. 29
A GUERRILHA NAS FRONTEIRAS
PM e Exército brasileiros fecham cerco ao crime em zona fronteiriça onde Farc atuam.
Dez dias depois do ataque colombiano às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em território do Equador, que resultou na pior crise diplomática da América do Sul nos últimos anos, a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas e as Forças Armadas desencadearam ontem uma grande operação da região da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. A Operação Encontro das Águas 2 ocorre paralelamente a uma das maiores ofensivas do governo colombiano contra as Farc, mas, segundo os responsáveis, não tem nenhum vínculo com os acontecimentos no país vizinho.
- Esta operação já estava programada antes do ataque que levou à crise - disse o secretário de Segurança Pública do Amazonas, Sá Cavalcante.
Desde o fim de semana, desembarcaram em Tabatinga, cidade separada da colombiana Letícia por apenas uma rua, 40 membros das tropas especiais da Polícia Militar amazonense e 33 policiais civis. Eles contarão com o apoio de aviões e soldados do Exército. Segundo a assessoria de imprensa do governo amazonense, o governador Eduardo Braga solicitou - e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, concedeu - uma verba de R$200 mil para que aviões do Comando Militar da Amazônia (CMA) pudessem se deslocar a Tabatinga para dar apoio à operação.
Embora a presença do grande contingente tenha chamado atenção de toda a cidade (a PM de Tabatinga tem 40 homens e a Polícia Civil, oito), o Exército mantém sigilo em torno da operação. O CMA e o 8º Batalhão de Infantaria da Selva (8º BIS) negam tanto a participação quanto o crédito suplementar liberado por Jobim.
- Não chegou nenhuma informação aqui. Desconheço - despistou o coronel Antonio Elcio Franco Filho, comandante do 8º BIS.
Operação deve durar 20 dias em três cidades
A tentativa de manter sigilo, no entanto, transformou-se em um segredo de polichinelo. A chegada de dezenas de homens com seus uniformes e armamentos à pequena cidade interiorana de 45 mil habitantes não passou despercebida pela população. Já na segunda-feira, bastava perguntar em qualquer estabelecimento comercial do centro de Tabatinga para saber onde fica a casa onde parte dos policiais está alojada. A Polícia Nacional colombiana, em Letícia, também tinha conhecimento, ontem, da ação do lado brasileiro.
Com duração prevista de 20 dias, a operação tem como objetivo aumentar a segurança nas cidades de Tabatinga, Benjamin Constant e Atalaia do Norte (as duas últimas na fronteira com o Peru).
- As tropas vieram para melhorar a sensação de segurança da população. O objetivo não é fazer apreensões ou prender pessoas. Vamos abordar veículos e pessoas, fazer uma barreira na fronteira - explicou o comandante do policiamento militar no interior, coronel Hiltomar Régis.
A primeira providência foi mandar capinar e tirar os arames farpados que há meses protegiam o posto desativado da PM na fronteira. A região é dominada pelo tráfico de cocaína - que, segundo a Polícia Federal, tem conexões com as Farc - e o policiamento insuficiente no lado brasileiro leva quadrilhas colombianas a cruzarem a fronteira para virem fazer acertos de contas no Brasil. No ano passado, foram cometidos pelo menos 37 assassinatos em Tabatinga, segundo levantamento da Câmara Municipal (segundo o governo, foram 16), enquanto em todo o departamento (estado) do Amazonas colombiano foram contabilizados nove homicídios, todos solucionados pela Polícia Nacional. Tabatinga tem 40 policiais militares e oito civis. Letícia, capital do Amazonas colombiano, conta com 420 homens da Polícia Nacional.
De acordo com o delegado-geral de polícia do Amazonas, Dan Câmara, alguns mandados de prisão contra criminosos que atuam na região serão cumpridos. No ano passado, dois policiais militares de Benjamin Constant entraram em confronto com um grupo de seis traficantes e dois criminosos foram mortos. A quadrilha teria jurado de morte os policiais brasileiros.
- Nosso único objetivo é combater a criminalidade. Entendo a propensão de vincular a operação ao evento internacional, mas não é isso, não - ressaltou o delegado Câmara.
Até o início da noite não havia sido divulgado um balanço da operação.