Título: Recompensa para assassino gera polêmica
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Fonte: O Globo, 12/03/2008, O Mundo, p. 30
Procurador-geral da Colômbia afirma que ex-guerrilheiro não deve ser acusado de homicídio de Iván Ríos e namorada.
BOGOTÁ e CARACAS. O futuro do ex-guerrilheiro Rojas está provocando um debate na sociedade colombiana. Após ter matado o número quatro das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e sua namorada de 17 anos, ele solicitou uma recompensa milionária oferecida pelo governo. Ontem, o procurador-geral do país afirmou que ele não deve ser acusado de homicídio, mas até mesmo o presidente Alvaro Uribe discute se um Estado pode estimular assassinatos.
Mario Iguarán, procurador-geral da Colômbia, afirmou que, em princípio, Rojas não deve ser acusado de homicídio. Segundo ele, as circunstâncias em que ocorreu o crime devem ser avaliadas, uma vez que Rojas pertencia a ¿uma organização armada onde a vida não vale nada¿:
¿ Um medo insuperável ou um terror invencível ou um estado de grande necessidade são causas que poderiam eximi-lo de responsabilidade.
O procurador disse que, caso Rojas não seja acusado, poderia receber a recompensa oferecida ¿ cinco bilhões de pesos colombianos (R$4,5 milhões).
O presidente Uribe disse que a questão é delicada. Ele afirmou que a lei que estipula recompensas para quem auxilia na caçada de terroristas é vaga e não diz se matar membros de grupos armados é legítimo.
¿ A política de recompensa sempre foi uma política do governo, sempre foi honrada. Neste caso em particular, precisamos dessa definição jurídica porque o governo estimula a informação que permita que a força pública alcance os delinqüentes ¿ disse Uribe. ¿ Neste caso, há uma ação que causou a morte de duas pessoas. E este é um Estado de direito.
Tropas venezuelanos voltam para suas bases regulares
Em editorial, o jornal colombiano ¿El Tiempo¿ diz que a questão é ¿jurídica, política e moral¿ e muito complexa. ¿Se o governo quer ser conseqüente com sua política de recompensas, deve pagar. Mas se quer ser conseqüente com os princípios básicos de uma democracia, algum mecanismo deve mostrar que delatar e matar não é o mesmo. Rojas deveria, portanto, receber, mas deveria, também, pagar. Pode alegar atenuantes, como em qualquer homicídio¿.
O caso ocorre no momento em que as Farc vivem a maior crise de sua história. Dois de seus sete principais líderes foram mortos em uma semana. De 19 mil guerrilheiros, em 2002, tem a metade hoje. De seis anos para cá, os seqüestros anuais baixaram de 2.883 para pouco mais de 500, e os atentados despencaram de 1.645 para 328.
Ontem, houve momentos de expectativa na fronteira entre Venezuela e Colômbia. Em Rubio, soldados venezuelanos cercavam a clínica La Colonia. Um homem ferido a bala no rosto deu entrada no hospital sábado, exibindo documentos falsos. As TVs venezuelanas Globovisión e Televen anunciaram que ele seria Joaquín Gómez, substituto de Raúl Reyes (o vice-líder das Farc morto numa operação colombiana no equador) no secretariado das Farc.
Porém, à noite, o general Juan Hidalgo, responsável pela região, deu uma entrevista exclusiva ao canal estatal, que pôde entrar na clínica e exibir imagens do homem ferido. O general mostrou uma foto de Gómez, o que provaria, segundo ele, que são pessoas diferentes.
Ontem, os soldados enviados pelo presidente Hugo Chávez para a fronteira da Colômbia foram mandados de volta para suas bases regulares Além disso, ontem a missão da OEA que investigará as causas do ataque colombiano às Farc no Equador chegou a Bogotá. Além disso, um grupo de especialistas estrangeiros da Interpol começou a analisar os computadores encontrados no acampamento em que foi morto Raúl Reyes. Liderados pelo diretor-geral da Interpol, Ronald Noble, a equipe conta com especialistas de Austrália, Cingapura e Coréia do Sul.