Título: O governo tem violentado este Congresso
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 13/03/2008, O País, p. 3

Garibaldi critica excesso de MPs e ameaça até renunciar à presidência do Senado, mas volta atrás

BRASÍLIA. O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), passou por um teste de fogo e quase perdeu o controle da sessão que aprovou, ontem de madrugada, a medida provisória que cria a TV pública. Chegou a ameaçar deixar o cargo, mas voltou atrás. As tiradas bem-humoradas, que costuma usar da tribuna, deram lugar a gritos e apelos para conter a troca de acusações entre governistas e oposição. Criticou o comportamento dos senadores e o governo, que, segundo ele, quer legislar. Para Garibaldi, a sessão do Senado, que terminou às 3h10m, foi lamentável:

- Este não foi o Senado que sonhei presidir. Não é o Senado que a opinião pública espera que vote as transformações que este país precisa. O governo tem exorbitado, tem violentado este Congresso. O governo está concorrendo para a queda das nossas instituições. Este governo merece uma resposta, mas não a resposta que estão dando.

Frustrado com a balbúrdia instalada no plenário, ameaçou encurtar o próprio mandato:

- Já tenho um mandato muito curto, talvez o mandato mais curto da história, e, se vossas excelências quiserem encurtá-lo ainda mais, que o encurtem, mas não vou abrir mão das minhas convicções! Ninguém vai me desmoralizar.

Mas, ao chegar ao Senado ontem, negou que vá deixar o cargo:

- Não pensei em abandonar a presidência. Falei em encurtamento da seguinte maneira, como uma frustração do que desejo para meu o mandato: votar os vetos presidenciais, a limitação das medidas provisórias e a reformulação do processo orçamentário. Para votar isso, vou precisar do consenso do Legislativo, porque ao governo não interessa. Minha manifestação não foi à la Jânio Quadros.

Garibaldi mandou ontem recados ao governo:

- O Poder Executivo quer legislar, tirando o poder da nossa boca. Estamos aqui para legislar, não para votar medidas provisórias. MP só não é pior do que trabalho escravo, mas vem goela abaixo - disse Garibaldi, ao participar de solenidade contra trabalho escravo.