Título: Trégua à vista na crise entre Brasil e Espanha
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 13/03/2008, O País, p. 10
Ministro Celso Amorim conversa com chanceler espanhol e anuncia criação de grupo binacional sobre assunto.
BRASÍLIA. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, anunciou ontem que, em conversa por telefone com o chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos, foi acertada uma trégua em relação às exigências para entrada de brasileiros naquele país. Ficou decidido que será criado um grupo com autoridades consulares dos dois países para discutir o assunto. A primeira reunião deverá ocorrer após a Páscoa. Amorim anunciou o acordo durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado.
O chanceler brasileiro informou que ficou acertado com o colega da Espanha que a comissão será formada por diplomatas de alto nível dos dois países. Amorim ressaltou o fato de Moratinos ter ligado dois dias após a eleição de José Luis Zapatero.
- Dois dias após a eleição do presidente, os espanhóis ligaram para darmos um jeito na situação. Interpreto como uma trégua, um esforço para diminuir o número de brasileiros impedidos de entrar na Espanha. O ideal é não ter brasileiro nessa situação - disse Amorim.
Até a reunião, vai prevalecer uma espécie de acordo de cavalheiros entre os dois países. O chanceler classificou o acerto com Moratinos como uma "atitude de contenção".
- É um acordo para evitar exageros, para que não ocorram maus-tratos e os direitos humanos não sejam violados - disse Amorim.
PF nega retaliação
O ministro Eduardo Gradilone, diretor do Departamento Consular e de Brasileiros no Exterior do Itamaraty, disse que está mudando o fluxo de brasileiros no exterior: eles estão deixando de ir tentar a vida nos Estados Unidos e indo para a Espanha. Muitos entram no continente pela Espanha, por causa da passagem mais barata.
Gradilone afirmou que a tendência é que as exigências de entrada nos países europeus sejam mais rigorosas:
- O desafio tende a ser mais árduo no horizonte. O clima é de maior rigidez.
O coordenador-geral de Imigração da PF, Cezar Augusto Toselli, negou que o governo brasileiro esteja adotado a retaliação ao não permitir o ingresso de espanhóis no Brasil.
- Seguimos a legislação e padrões técnicos legais.
Ao comentar imagens divulgadas em que agentes da PF atuam com rispidez contra turistas espanhóis, Toselli disse não ter como controlar esses servidores.
- Os policiais são seres humanos. Eles têm poder, e alguns acabam influenciados pelo que estão vendo ocorrer com brasileiros na Espanha.