Título: Estado já tem 23.294 casos de dengue e 33 mortes
Autor: Costa, Célia; Vianna, Maria
Fonte: O Globo, 13/03/2008, Rio, p. 24

Secretaria vai criar 100 leitos para doentes mais graves.

Os 23.294 casos de dengue já registrados no estado, desde o início do ano ( 14.701 somente na capital), levaram a Secretaria estadual de Saúde a anunciar ontem a criação de mais cem leitos para o atendimento de adultos e crianças com a doença. Eles serão abertos no Hospital Anchieta, no Caju, que passará por uma reforma. A previsão é que a obra fique pronta em cinco dias. Este ano, foram registradas 33 mortes, 19 delas no município do Rio. Um bebê de 5 meses, que morreu na segunda-feira, no Instituto Fernandes Figueira, ainda não faz parte das estatísticas, e seria a 34ª vítima no estado.

Os números de casos da doença podem ser ainda maiores, segundo especialistas, mesmo sendo a doença de notificação compulsória. Segundo o infectologista Edmilson Migowski, professor da UFRJ, apenas 10% dos casos em que a dengue é diagnosticada clinicamente são notificados. Pelas contas do infectologista, no estado, seriam 232.940 casos desde janeiro.

Além de atingir as crianças - que são suscetíveis ao vírus tipo 2 porque nunca tiveram contato com ele -, a dengue está afetando também recém-nascidos, contaminados pela mãe. Ontem, foi confirmado mais um caso. O pequeno João Pedro Rodrigues de Oliveira, de apenas 14 dias, foi contaminado por sua mãe e está em recuperação na UTI neonatal da Santa Casa de Angra dos Reis.

Para pôr em funcionamento o centro de referência do Hospital Anchieta, o secretário Sérgio Côrtes disse que está encontrando dificuldades devido à falta de pediatras e clínicos. Ele anunciou que já está à procura dos especialistas para a contratação.

- O objetivo é concentrar o atendimento dos casos mais graves, o que dá rapidez ao diagnóstico - disse.

Lei que permite arrombar casas recebe emenda

Ontem, a Assembléia Legislativa aprovou a lei que previa o arrombamento de casas cujos donos não permitissem a entrada de agentes, mas com uma emenda que prejudica o combate aos focos do mosquito. Os deputados fizeram uma emenda exigindo que o Estado só entrasse nas casas fechadas com autorização judicial, o Auto de Ingresso Forçado. O projeto enviado pelo Executivo ainda depende de sanção do governador Sérgio Cabral.

Ontem, em uma palestra na UFRJ intitulada "Mitos e verdades sobre a dengue", o microbiologista Maulori Cabral alertou que a dengue hemorrágica pode ser resultante de um componente genético.

- Como só é possível saber se você tem tendência a desenvolver a forma hemorrágica depois de picado, obviamente o principal cuidado com a saúde deve ser evitar o contágio - enfatiza Cabral.

Ele alertou também que existe uma faixa etária mais suscetível à doença:

- Não se sabe exatamente o motivo, mas estatísticas indicam que 57% dos casos de dengue hemorrágica acontecem em crianças com oito anos. Por isso, quem tem filhos ou convive com crianças nesta faixa etária deve ter um cuidado redobrado - explicou.

Durante o evento, especialistas apresentaram uma solução simples, que pode ser feita em casa e ajudar autoridades no combate à proliferação do mosquito transmissor. Cabral e Maria Isabel Libreto têm experimentado, com sucesso, uma "mosquitoeira" feita de garrafa PET que, assim como a tradicional ratoeira para roedores, age como uma armadilha de mosquitos. A engenhoca utiliza uma garrafa PET, cortada em forma de funil, micro tule, lixa de madeira, fita isolante, alpiste, arroz cru ou ração de gato e água. Depois de pronta, ela vai atrair o Aedes aegypti e outros mosquitos, que depositam seus ovos naquela água. Quando os ovos viram larvas e depois mosquitos, ficam presos dentro da "mosquitoeira".

- Na hora de jogar a água fora, o ideal é misturá-la com detergente ou água sanitária para matar os bichinhos, ou misturar a água com areia. Não jogue o líquido na pia ou no vaso sanitário -diz Maria Isabel.

*do Globo Online